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PMs arremessam bombas e gás lacrimogêneo ao final de protesto em São Paulo

Pouco depois do ato que pedia a saída do presidente Michel Temer e eleições diretas ser encerrado pelos organizadores, a Polícia Militar (PM) começou a disparar bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e muita água nos manifestantes. Sem dizer qual foi a razão para que isso ocorresse, a Polícia Militar dispersou os manifestantes que já estavam se preparando para ir embora do Largo da Batata, na zona oeste da capital. Por meio do Twitter, a Polícia Militar de São Paulo disse que "em manifestação inicialmente pacífica, vândalos atuam e obrigam PM a intervir com uso moderado da força / munição química".

As bombas assustaram muitas pessoas. Entre elas, a estudante Ana Luiza Parra Spinola, 18 anos, que passou correndo pela reportagem da Agência Brasil ao lado de seu avô Geraldo Spinola. “Meu avô tem 90 anos. É a primeira vez que ele vem a um protesto. A gente tinha acabado de chegar. Moramos aqui perto e viemos porque estava pacífico. Eles jogaram bomba e meu avô tem dificuldade de locomoção”, reclamou a estudante. “Somos contra o golpe. Só estamos pedindo um governo legítimo.“Eles [policiais] querem causar a imagem de que nós, manifestantes, somos os ruins. Mas eles que começam”, ressaltou.

Outro que teve que sair correndo, mesmo sem ter participado do protesto foi o professor de tênis Valdemar Paixão, 56 anos. Valdemar estava sentado em um bar na região, quando as bombas começaram e ele teve que sair correndo. “Eu estava em um bar. Começaram a soltar bomba e gás lacrimogêneo, começou a arder os olhos. Acho que devia ter paz, senão o Brasil nunca vai andar para a frente”,afirmou.

O ato teve início na Avenida Paulista por volta das 16h de hoje. As 17h30, os organizadores deram início a uma caminhada de cerca de duas horas, que passou pela Avenida Rebouças e terminou no Largo da Batata. Durante a caminhada, grupos black blocs começaram a se organizar, mas foram contidos por seguranças e membros de movimentos sociais e da torcida Gaviões da Fiel, que os alertaram que seria importante manter o ato pacífico.

Ao chegarem no Largo, os organizadores encerraram a manifestação, pedindo para que as pessoas não “entrassem em confronto com os policiais” na dispersão. Pouco tempo depois, a confusão começou. Policiais militares, que acompanharam todo o ato à distância, decidiram sair de um lado do Largo da Batata para mais perto da praça, sendo muito vaiados pelos manifestantes. Pouco tempo depois das vaias, começaram as primeiras bombas, o que gerou muito corre-corre no local.

Grupos black blocs começaram novamente a se organizar para seguir em direção aos policiais, mas foram contidos por membros de movimentos sociais, que insistam em dizer a eles para deixar as provocações apenas em responsabilidade dos policiais. Os organizadores do ato chegaram a ir ao microfone para pedir que os manifestantes não entrassem em confronto com os policiais, mas, enquanto falavam, diversas bombas foram disparadas na direção deles.

Muitos correram para a estação de metrô Pinheiros, onde desceram as escadas rolantes gritando "Fora Temer".

Pouco antes das bombas, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, fez um balanço positivo da manifestação. “O ato foi uma grande demonstração de força de setores populares contra o governo ilegítimo do Michel Temer. Foi um ato que também expressou a reação da provocação infame que ele fez sobre 40 manifestantes, desqualificando a participação popular”, disse.

Segundo os organizadores, o ato atraiu 100 mil pessoas. A Polícia Militar não deu estimativa do número de participantes. Diversos políticos participaram da manifestação, como Eduardo Suplicy, Luiza Erundina (PSOL) e Lindbergh Farias (PT-RJ).

Uma nova manifestação foi marcada para a próxima quinta-feira (8), as 17h, no Largo da Batata, e a intenção dos manifestantes é seguir em direção à casa de Michel Temer, no Alto de Pinheiros, em São Paulo.

Detidos no Deic

Antes do protesto começar, cerca de 30 pessoas que iriam participar do protesto foram detidas pela Polícia Militar no Centro Cultural São Paulo, na Rua Vergueiro. Elas foram levadas para o Departamento de Investigações Criminais de São Paulo (Deic),que confirmou à reportagem que eles estavam lá, sem confirmar o número de pessoas e porque haviam sido detidos. A reportagem conversou com pessoas que conhecem alguns dos detidos e que estavam no protesto de hoje e eles disseram que a Polícia Civil tinha proibido a presença de advogados por lá e que não havia informações sobre o porque eles haviam sido detidos.

 

Agência Brasil

 

No Rio, protesto contra Temer pede nova eleição para a Presidência da República

 

Isabela Vieira – Repórter da Agência Brasil

Manifestantes foram às ruas hoje (4) no Rio de Janeiro, para protestar contra o governo do presidente Michel Temer. Um grupo entre 7 mil e 10 mil pessoas, segundo os organizadores, caminhou do Hotel Copacabana Palace até o Canecão – tradicional casa de shows –, na zona sul carioca. A Polícia Militar não estimou o número de manifestantes. A menos de uma semana doimpeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, cartazes e palavras de ordem pediram a saída do governo e novas eleições para a Presidência da República.

Os manifestantes se concentraram desde às 10h em frente ao hotel, antes de sair em caminhada, acusando que houve "golpe" no processo que tirou Dilma do Palácio do Planalto. Aos gritos de "Diretas Já" e jograis como "Eu já falei, vou repetir, é o povo quem tem de decidir" ou "Diretas já, o povo quer votar" chegaram até a casa de show, ocupada pelo grupo Ocupa Minc. Este grupo surgiu quando o Ministério da Cultura foi extinto, no Palácio Capanema, sede do órgão no Rio, e permanece mobilizando a classe artística contra o governo de Temer.

Um dos organizadores do protesto, integrante da frente Povo Sem Medo, Victor Guimarães, disse que a defesa das eleições diretas cresceu e deu o tom ao protesto. A tendência, disse, é que a reivindicação ganhe força nos próximos dias e se espalhe por todo o país. Ele espera que manifestações do Grito dos Excluídos, quarta-feira, no feriado de 7 de setembro, em várias cidades, a ideia de eleger um novo presidente reúne mais adeptos contra o governo.

"O país não funciona direito, a política e as instituições não têm condições de atender as necessidades do povo. Tem que zerar o jogo. O povo é quem deve decidir seu futuro", disse ele, representando também o Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST).

O deputado federal Wadih Damous, pelo PT, no Rio, também esteve na manifestação. Ele falou em favor das eleições diretas como saída para o que chamou de crise institucional. "Para barrar esse golpe, só a força do povo. E acho que há uma bandeira que unifica essa luta são as diretas". Para o deputado, o processo que levou Temer ao poder foi uma "eleição indireta".

A declaração do deputado está alinhada às decisões do PT, que na última semana defendeu o voto popular como "única maneira de reestabelecer a democracia". Para o partido, que saiu do governo federal após 13 anos, o governo atual não recebeu votos, mas "usurpou o poder".

Participando da manifestação, o cineasta Arlindo, de 71 anos, que pediu para ser identificado apenas com o primeiro nome, reforçou que a população está inconformada. Para ele, é preciso retomar as rédeas da democracias "O povo não pode ser subestimado. E o golpe representa um grupo político que não se elege por voto. Então, partem para uma trama que contraria os princípios elementares da democracia", disse.

A pauta também mobilizou o Psol carioca. A dirigente Maria do Socorro Setúbal condenou a decisão do parlamento de votar pelo impeachment. "Aqui não é parlamentarismo, o regime de governo é o presidencialismo", declarou, cobrando respeito às urnas.

Durante o protesto, ainda em Copacabana, um veículo do Jornal Estado de São Paulo foi danificado. Um manifestante sozinho, exaltado, chutou as duas portas do carro, do lado do motorista e mala do carro. Foi feito um registro por dano ao patrimônio na 12ª Delegacia de Polícia.

A PM disse que não houve outros registros de violência até a dispersão do ato.

 

Agência Brasil

 

Atletas paralímpicos do atletismo chegam entusiasmados para a Rio 2016

 

Isabela Vieira – Repórter da Agência Brasil*

Rio de Janeiro - Atletas brasileiros que participarão das Paralimpíadas Rio 2016 desembarcam no Aeroporto Internacional Tom Jobim/RioGaleão na tarde de hoje (04). (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Atletas brasileiros paralímpicos desembarcam no Aeroporto Internacional Tom Jobim/RioGaleão Tomaz Silva/Agência Brasil

A delegação mais premiada do esporte paralímpico no país, a do atletismo, desembarcou hoje (4) no aeroporto internacional do Galeão/Tom Jobim, no Rio de Janeiro. Vinda da concentração em São Paulo, a equipe, que conta com os velocistas Yohansson Nascimento e Terezinha Guilhermina, chegou junto com as delegações de triathlon e bocha e já seguiu para a Vila dos Atletas. A estreia do time será na próxima quinta-feira (8), no Estádio do Engenhão.

Rio de Janeiro - Atletas brasileiros que participarão das Paralimpíadas Rio 2016 desembarcam no Aeroporto Internacional Tom Jobim/RioGaleão na tarde de hoje (04). (Tomaz Silva/Agência Brasil)

A abertura da competição, no Estádio do Maracanã, será na quarta-feira (7) e o encerramento dia 18.))Tomaz Silva/Agência Brasil

Bastante assediado na chegada, Yohansson, que foi ouro nos 200 metros e prata no revezamento 4x100 metros na paralimpíada de Londres, além de ter sido bronze nos 100 metros, em Pequim, espera comemorar seu aniversário, no final de setembro, com mais medalhas.

Rio de Janeiro - O velocista Yohansson Nascimento fala após chegada no Aeroporto Internacional Tom Jobim/RioGaleão para os Jogos Paralímpicos Rio 2016. (Tomaz Silva/Agência Brasil)

O velocista Yohansson Nascimento fala Tomaz Silva/Agência Brasil

"Tem um atleta que eu quero muito ganhar dele, ele é de Maceió, Alagoas, o nome dele é Yohansson, a minha maior preocupação é com ele", brincou. "Quero estar nas pistas fazendo uma boa marca e não me preocupar com adversários. Sei que estou preparado para meu melhor".

Também familiarizada com o pódio desde os jogos de Atenas, em 2004, e atual recordista mundial nos 100 metros e 400 metros, a recordista Terezinha Guilhermina disse que resolveu pintar o cabelo de azul para garantir que o público consiga vê-la. Com seis medalhas em paralimpídas e doze em mundiais, ela espera inspirar uma nova geração de atletas.

“Independente de ter alguma limitação somos capazes de fazer as coisas tão bem quanto qualquer outra pessoa, um pouco diferente, mas tão bem quanto, somos capazes de sonhar, de realizar esses sonhos e de motivar outras pessoas a fazerem o mesmo”, incentivou.

Ansiosa para sua quarta participação, Rosinha Santos, atleta do arremesso de peso, que superou um câncer para conseguir estar na competição, ressaltou o bom momento do esporte paralímpico no Brasil, com investimentos que possibilitaram um treinamento de ponta.

"As pessoas falam tanto em superação, mas assim como na olimpíada, na paralimpíada não tem essa de superação, tem treino, se você treinar, não tem essa de superar", disse ela, que já carrega duas medalhas de ouro, quando conquistou o primeiro lugar no pódio, em Sydney, em 2000.

Rio de Janeiro - Atletas brasileiros que participarão das Paralimpíadas Rio 2016 desembarcam no Aeroporto Internacional Tom Jobim/RioGaleão na tarde de hoje (04). (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Os atletas desembarcaram animados, no GaleãoTomaz Silva/Agência Brasil

Técnica de Rosinha há doze anos, Valquíria Campelo deseja mais que sorte aos atletas. No desembarque, aproveitou para defender que boa marca de investimentos continue mesmo depois dos Jogos Rio 2016. "Cada ciclo de paralímpiada é um ciclo renovador. O resultado desse ciclo vai ser bem melhor que o de Londres. E um vai ajudando o outro", disse. "A esperança é que a gente consiga dar continuidade para o ciclo de Tóquio (em 2020), completou.

Rio de Janeiro - Atletas brasileiros que participarão das Paralimpíadas Rio 2016 desembarcam no Aeroporto Internacional Tom Jobim/RioGaleão na tarde de hoje (04). (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Ao todo, incluindo os estrangeiros, eles serão 4,3 mil na Vila dos AtletasTomaz Silva/Agência Brasil

Com 61 atletas, o atletismo é a modalidade em que o Brasil conquistou mais medalhas até hoje e terá papel fundamental para o bom despenho do país, que esperava ficar no 5º lugar no ranking de medalhas. A expectativa do Comitê Paralímpico Brasileiro é ganhar entre 11 e 14 medalhas de ouro nas competições. Desde 1984, a modalidade conquistou 109 medalhas em Jogos Paralímpicos, sendo 32 de ouro, 47 de prata e 30 de bronze.

O Rio de Janeiro recebe os atletas da paralimpíada o desde a última quarta-feira (31). Ao todo, incluindo os estrangeiros, eles serão 4,3 mil na Vila dos Atletas. A abertura da competição, no Estádio do Maracanã, será na quarta-feira (7) e o encerramento dia 18.

 

Agência Brasil

 

 

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Foto: Diego Vara/Agência RBS

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Ex-atletas paralímpicos contam que enfrentaram frio e falta de apoio financeiro

 

Sabrina Craide - Repórter da Agência Brasil

Em 1984, a delegação de atletas convocados para representar o Brasil na Paralimpíada de Nova York estava com tudo pronto para embarcar, só faltava um detalhe: uma das passagens de avião. A dois dias da viagem, o grupo de sete atletas cegos que ia para a competição só tinha conseguido seis passagens e teria que cortar um integrante da delegação.

Atletas com deficiência visual, que participaram da Paralimpíada de Nova York em 1984. Ao centro, Mário Sérgio Fontes (de óculos) e Anelise Hermany - Foto Projeto Memória Paralímpica Brasileira

Atletas com deficiência visual que participaram da Paralimpíada de Nova York, em 1984. Ao centro, Mário Sérgio Fontes (de óculos) e Anelise Hermany -Projeto Memória Paralímpica Brasileira

“Definimos que se essa última passagem não fosse adquirida, deveríamos cortar uma pessoa, que seria a única menina da equipe. Em princípio, se achava que essa garota teria menos condições de alcançar resultados. Porém, essa última passagem foi conseguida em cima da hora, e a equipe foi completa”, conta o ex-atleta Mário Sérgio Fontes.

Por ironia, a menina que seria cortada era Anelise Hermany, que foi a única do grupo de deficientes visuais que voltou para o Brasil com medalhas: duas de prata e uma de bronze. Naquele ano, Márcia Malsar, também do atletismo, que tem paralisia cerebral, ganhou três medalhas - uma de ouro, uma de prata e uma de bronze.

A história contada por Fontes, um dos pioneiros do esporte para cegos no Brasil, reflete bem como era o esporte para deficientes no país há algumas décadas. A falta de financiamentos e de patrocínios dificultava o treinamento e a participação em torneios e disputas internacionais. Os atletas mais antigos contam que não havia exatamente um patrocínio para suas atividades, mas ajudas esporádicas, conquistadas de forma individual.

“Não tínhamos nenhuma condição financeira de ficar em hotéis para treinamento, nossa estrutura era totalmente empírica porém, com absoluta certeza, era feita com amor, com vontade, com dedicação de todos aqueles que militavam, porque ninguém fazia sequer pensando em ganhar dinheiro. Hoje, qualquer atleta de ponta está patrocinado, ou por patrocínios individuais ou governamental, mas tem como obter recursos de algum lugar. No nosso tempo, só sonhávamos com isso”, diz Fontes, que é deficiente visual e também participou da Paralimpíada de Seul (1988).

Em 1984 foi a única vez que os Jogos Paralímpicos foram realizados em dois lugares diferentes. As competições para cadeirantes ocorreram em Stoke Mandeville, na Inglaterra, e as provas para deficientes visuais, amputados e com paralisia cerebral foram realizadas em Nova York, nos Estados Unidos. Esse também foi o último ano em que a Paralimpíada ocorreu em lugares diferentes da Olimpíada. A partir de 1988, em Seul, os dois eventos sempre aconteceram na mesma cidade.

A atleta Ádria Santos, que participou de seis paralimpíadas entre 1988 e 2008, conta que só começou a receber apoio financeiro para a prática do esporte depois de ter participado de três competições. A ganhadora de 13 medalhas paralímpicas no atletismo (4 ouros, 8 pratas e 1 bronze) diz que, no início, treinava com tênis de futebol de salão e em pistas de carvão. “A gente tinha que fazer projetos para conseguir ajuda de pessoas conhecidas para apoiar as viagens, os lanches dos atletas”, diz a medalhista, que é cega.

Delegação paralímpica do Brasil em Seul, em 1988 - Divulgação Projeto Memória Paralímpica Brasileira

Delegação paralímpica do Brasil em Seul, em 1988 -Projeto Memória Paralímpica Brasileira

Mesmo quando conseguiam ir à Paralimpíada, as condições enfrentadas pelos atletas não eram as ideais. “Em Seul, a gente teve uniforme, mas não era como hoje, com o tamanho certo e de marcas conhecidas. Naquela época, os uniformes eram feitos e muitos ficavam pequenos, curtos, e tinha que usar, porque era só aquilo que tinha”, conta Ádria.

Frio abaixo de zero

Em 1982, a delegação brasileira que foi participar dos jogos Parapan-Americanos em Halifax, no Canadá, teve que contar com a boa vontade dos moradores locais para conseguir agasalhos. “Nós chegamos para disputar o campeonato em um frio abaixo de zero, e todo mundo estava de camiseta. A gente queria fazer o campeonato dentro do avião, porque lá pelo menos era quente. Mas, como era uma colônia de portugueses, tivemos facilidade com a língua, e eles que compraram os primeiros casacos para vestirmos”, conta o ex-atleta Luiz Cláudio Pereira.

O atleta, que participou da Paralimpíada de Stoke Mandeville, em 1984, de Seul, em 1988, e de Barcelona, em 1992, e já conquistou nove medalhas paralímpicas diz que a principal diferença da prática do esporte naquela época é em relação aos recursos disponíveis. “Hoje, temos patrocinadores, todo mundo viaja muito bem. Isso mostra que não se faz esporte de alto rendimento só com desejo. Se faz com recursos”, diz Pereira, que é cadeirante e hoje é presidente da Associação Brasileira de Rugby em Cadeira de Rodas.

Abertura dos Jogos Olímpicos em Stoke Mandeville, em 1984 - Divulgação Projeto Memória Paralímpica Brasileira

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Abertura dos Jogos Olímpicos em Stoke Mandeville, em 1984 -Divulgação Projeto Memória Paralímpica Brasileira

O primeiro presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, João Batista Carvalho e Silva, também considera a falta de recursos uma das maiores dificuldades para a prática do esporte por deficientes especialmente até a década de 90. “O dinheiro que movimenta as coisas estava na frente. Quando você esticava a mão para pegar, ele andava para a frente. Hoje, o dinheiro está nas costas, então você anda e o dinheiro vem atrás de você”, diz, comparando com a situação atual do esporte.

Segundo Batista, com a criação do CPB, em 1995, a captação de recursos para o esporte melhorou. Ele conta que o então ministro do Esporte, Pelé, deu muito apoio para o esporte paralímpico e até acompanhou a delegação que disputou os jogos em Atlanta, em 1996.

Falta de patrocínio

“Os atletas mais antigos relatam que não conseguiam patrocínio porque as empresas não queriam patrocinar uma pessoa com deficiência, não queriam associar sua marca a uma pessoa com deficiência”, diz a doutora em educação física adaptada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Michelle Barreto, que elaborou sua tese de doutorado sobre o esporte paralímpico brasileiro entre os anos de 1976 e 1992.

Segundo ela, os atletas contam que nas primeiras paralimpíadas de que participaram não tinham nem uniforme próprio para jogar, usavam o uniforme da seleção de futebol. “Eles nunca tiveram nenhum tipo de pagamento ou bolsa, como acontece hoje. Alguns tinham um patrocínio, que era pessoal, que é diferente da concepção de patrocínio que temos hoje. Hoje, o atleta recebe um valor por mês para manter seu treinamento. Naquele período, os amigos se reuniam ou uma empresa dava recursos para eventos específicos, como viagens. Era uma ajuda de custo para aquele momento”, conta a pesquisadora.

Conversando com diversos atletas pioneiros no esporte adaptado no Brasil, ela concluiu que a falta de infraestrutura era a maior dificuldade para a atividade naquela época. Uma das histórias contadas por atletas à professora ilustra bem as dificuldades vividas pela delegação brasileira. Na Paralimpíada de Toronto, em 1976, enquanto os cadeirantes do Brasil usavam cadeiras de roda com pneus de borracha e remendados com mangueiras, os japoneses já tinham a tecnologia de usar pneus com câmara, que podiam ser enchidos com ar antes das provas."A gente realmente estava um pouco atrás, mas já conseguimos bons desempenhos no começo, ganhando medalhas", diz a professora.

Preconceito

A professora Janice Zarpellon Mazo, da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), coordena uma pesquisa sobre as memórias dos atletas paralímpicos brasileiros entre 1972 e 2012. Até agora, já foram feitas mais de 30 entrevistas com atletas, treinadores, guias e outros sujeitos envolvidos com o esporte paralímpico. A pesquisadora lembra que o preconceito em relação às pessoas com deficiência era muito evidente e que vários atletas pioneiros do paradesporto no país encontraram no esporte uma alternativa de socialização.

“Para muitos, o que aparece é que o esporte é como se fosse um salva-vidas. É uma vida antes e depois da prática esportiva, porque eles começam a constituir grupos, isso é muito importante. Porque sabemos que muitas pessoas com deficiência viviam isoladas, pela questão da acessibilidade e da própria família que, com vergonha, acabava escondendo. Eles ficavam muito invisíveis”, diz Mazo.

O ex-ministro do Esporte Pelé com a delegação paralímpica que representou o Brasil em Atlanta, em 1996. Divulgação/ Acervo pessoal João Batista Carvalho e Silva

O ex-ministro do Esporte Pelé com a delegação paralímpica que representou o Brasil em Atlanta, em 1996. Divulgação/ Acervo pessoal João Batista Carvalho e SilvaDivulgação/ Acervo pessoal João Batista Carvalho e Silva

Para a professora, uma das principais evoluções do esporte para pessoas com deficiência nas últimas décadas foi em relação à organização e ao financiamento da prática. Segundo ela, antes da criação do Comitê Paralímpico Brasileiro, em 1995, os atletas recebiam apenas recursos esporádicos de associações, algumas iniciativas e também da própria família. “Os atletas contavam que trabalhavam durante o dia e treinavam à noite. Além disso, as condições de treinamento eram muito precárias. Eles contam de lesões. Houve uma melhoria na parte do treinamento, de como treinar”, acrescentaa professora.

Legado

Apesar das dificuldades, os ex-atletas consideram que os primeiros momentos do esporte paralímpico no Brasil foram fundamentais para embasar o que existe hoje. “Hoje, temos outra estrutura, financeiramente completamente diferente. Mas todo esse início foi o que fundamentou e sedimentou tudo o que existe hoje aí. Tenho absoluta certeza de que nada disso estaria acontecendo se não houvesse aqueles primeiros passos que foram feitos com amor e sem nenhuma condição financeira , diz Mário Sérgio Fontes.

Para Ádria Santos, hoje os atletas de ponta têm uma boa estrutura, mas atletas menos conhecidos ainda enfrentam as mesmas dificuldades de antigamente. Mas ela também acredita que as dificuldades ajudam a melhorar o esporte. “As coisas que a gente plantou os atletas estão colhendo hoje. E os de hoje vão plantar para os próximos, que certamente vão ter mais condições que os de hoje”

A professora Michelle Barreto também destaca a importância do pioneirismo dos primeiros medalhistas brasileiros. “Eles têm um valor inestimável para o paradesporto no país. Para chegar onde estamos hoje, esses atletas têm um valor que tem que ser reconhecido, pois eles foram muito importantes para a constituição do esporte. Alguém tinham que passar por isso, não ia começar de uma hora para outra, já bem como está. E muitos têm esse orgulho de ter passado por esse sacrifício”, diz.

A primeira participação do Brasil em Paralimpíada foi em 1972, em Heidelberg, na Alemanha, com uma equipe de dez atletas. Eles foram participar das competições de basquete em cadeiras de rodas, mas competiram também em outras modalidades, como atletismo e natação. Na Paralimpíada deste ano, no Rio de Janeiro, a delegação brasileira contará com 287 atletas, participando em 22 modalidades.

 

Agência Brasil

 

Energia e força do coração vão marcar abertura da Paralimpíada, diz produtor

 

Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil

A americana Amy Purdy, medalhista do snowboard nos jogos de inverno, será um dos destaques da abertura da Paralimpíada (Rio 2016/Gabriel Nascimento)

A americana Amy Purdy, medalhista do snowboard nos jogos de inverno, será um dos destaques da abertura da Paralimpíada (Rio 2016/Gabriel Nascimento)Rio 2016/Gabriel Nascimento

Quando os primeiros acordes começarem a soar no Estádio do Maracanã, às 18h15 de quarta-feira (7), dando início à cerimônia de abertura da Paralimpíada, terá início uma festa inesquecível, com muita energia e a força do coração. A definição é do produtor executivo do evento, Flávio Machado, responsável pela supervisão de cada detalhe da abertura.

“O conceito é 'o coração não conhece limites'. E todos nós temos isso em comum, o coração. A gente aprende com esses atletas paralímpicos e com todas pessoas com deficiência, que não se deixam abater e conquistam coisas maravilhosas. Isso é muito inspirador. Eles só conseguem isso porque têm esse coração dentro deles, que faz romper os limites. Queremos que as pessoas saiam daqui repensando a deficiência”, disse Flávio, durante um intervalo dos ensaios, no fim da tarde de sexta-feira (2).

Segundo ele, trabalhar com pessoas com deficiência é completamente diferente. “Tem que ter um cuidado especial, mas a energia deles, com as limitações que têm, de se transportar aqui só para participar dos ensaios, já requer uma força além do normal. Isso faz com que a energia fique mais positiva ainda.”

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Flávio disse que o desafio para que tudo dê certo é grande. Serão três horas de duração, com 2 mil voluntários e shows musicais. “Tudo é uma responsabilidade muito grande. É o maior espetáculo que já fiz na minha vida. O desafio é manter tudo isso funcionando, é uma máquina gigantesca por trás para fazer tudo acontecer. É uma complexidade enorme de manter tudo sincronizado, projeção, luz, trilha, fogos, coreografia”, disse ele, que comandará tudo do alto das arquibancadas.

Entre os artistas que estarão fazendo parte do espetáculo, está a dupla de dançarinos Renata Fonseca de Almeida e Oscar Benfica Martins. Ela tem apenas 20% da visão e ele ficou completamente cego aos 9 anos de idade. Mas, juntos, prometem encantar o público com seu desempenho no estádio.

“Foi uma emoção a primeira vez que entrei no Maracanã. O coração pula e as pernas tremem. A gente vai dançar juntos, em um segmento chamado Beyond vision [Além da visão]”, contou Renata, que nasceu com retinose pigmentar e veio perdendo a visão do longo dos anos.

“A energia da imensidão do Maracanã me traz uma sensação de liberdade, mas também de responsabilidade, para desenvolver bem o trabalho e representar a nossa classe. Estamos aqui representando os cegos do mundo inteiro”, disse Oscar, que teve descolamento de retina na infância, mas guarda com carinho todas as imagens que conheceu do mundo, como pediu sua mãe, quando ele começou a perder a visão.

Uma das estrelas do espetáculo deve ser o jovem Davi Teixeira, de 11 anos, conhecido como Davizinho, que recentemente foi vice-campeão mundial de surf adaptado na Califórnia. “Estou um pouco nervoso, mas bem preparado, eu acho. Estou muito ansioso para finalmente chegar o dia e fazer parte da abertura”, disse ele, que nasceu com síndrome da banda amniótica, o que levou a deformidades severas nas pernas e nos braços.

Ao falar sobre o que faz para superar os desafios, Davizinho, que está no quinto ano, disse que crê em Deus  e citou três palavras que considera mágicas: fé, determinação e força de vontade.

 

Agência Brasil

 

 

Atletas com deficiência não são super-heróis, diz pioneiro do esporte para cegos

 

Sabrina Craide - Repórter da Agência Brasil

Ex-atleta Mário Sérgio Fontes durante os Jogos Parapan-Americanos de Toronto, em 2015 - Divulgação/Arquivo pessoal do atleta

Ex-atleta Mário Sérgio Fontes durante os Jogos Parapan-Americanos de Toronto, em 2015 - Divulgação/Arquivo pessoal do atletaDivulgação/Arquivo pessoal do atleta

O ex-atleta paralímpico Mário Sérgio Fontes, que participou da Paralimpíada de Nova York, em 1984, e de Seul, em 1988, não gosta que os atletas com deficiência sejam tratados como super-heróis. Para ele, os paralímpicos são seres humanos comuns, que têm que treinar muito para conseguir bons resultados.

“As pessoas com deficiência podem ser mocinhos ou bandidos, como outras quaisquer. Não gosto muito dessa supervalorização. Para mim, isso é uma discriminação ao contrário”, diz Fontes, que foi o primeiro cego a se formar em educação física no Brasil, pela Universidade Federal do Paraná, em 1990.

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Ele é deficiente visual desde os 3 anos de idade. Estava assistindo a uma competição de aeromodelismo em Paranaguá, no litoral do Paraná, quando foi atingido por um dos aviões, que se soltou do cabo de aço. “Foi altamente preciso, uma hélice em cada olho”, conta. Depois do acidente, não deixou de brincar e considera que o início de sua vida esportiva começou na infância. “Mesmo sendo deficiente visual, e mesmo sem conhecer outras crianças com deficiência visual, todo meu primeiro passo de brincadeiras na rua foi o princípio esportivo, até porque nesse tempo não existia nada relacionado à prática esportiva organizada para deficientes”.

O professor de educação física conta que participou do início da organização do esporte para cegos no Brasil. Depois de fazer parte de uma competição organizada pelas Apaes, em 1980, ele conheceu cegos de outros estados e resolveu unir forças para estruturar o esporte voltado especialmente para os deficientes visuais do país. “No ano seguinte, organizamos o primeiro campeonato brasileiro de futebol, que foi a base para a organização do desporto de cegos no Brasil”.

Em 1984, Fontes participou da criação da Associação Brasileira de Desportos para Cegos (ABDC), o que garantiu a participação de deficientes visuais na Paralimpíada de Nova York, no mesmo ano. Sete atletas cegos participaram da competição, seis no atletismo e um na natação. Neste ano, as atletas Anelise Hermany e Márcia Malsar garantiram ao Brasil seis medalhas no atletismo. “Ninguém tinha o conhecimento do que era uma competição internacional, o nível dos competidores. Saímos daqui achando que éramos os melhores do mundo. Eu fui o porta-bandeira da equipe na abertura, mas voltei lá atrás, claro que quem levou a bandeira no encerramento foi a Anelise”, brinca Fontes.

Ele também foi um dos responsáveis pela introdução do goalball no Brasil, em 1986, quando participou do campeonato mundial da modalidade, na Holanda. “Daí eu trouxe para o Brasil as primeiras bolas e as regras do jogo”, lembra. O primeiro campeonato brasileiro foi realizado no ano seguinte, em Uberlândia (MG). Atualmente, o goalball, que é uma modalidade desenvolvida exclusivamente para deficientes visuais, baseado na percepção tátil e auditiva do atleta, é praticado em 112 países.

Além de ter participado das paralimpíadas de Nova York (1984) e Seul (1988), competindo no atletismo, Fontes também esteve em Atenas (2004), como coordenador da seleção de Futebol de 5, para deficientes visuais, e em Pequim (2008), como dirigente. Também estará presente na Paralimpíada do Rio, como representante brasileiro no subcomitê de Futebol de 5 da Federação Internacional de Esportes para Cegos.

 

Agência Brasil

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