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A escola de tempo integral, realidade e utopia, por Rejane Maria Silva de Barcellos

Nos meios de comunicação, em redes sociais nunca se falou tanto em educação pública no Brasil. Todos concordam que um ensino de qualidade é a principal meta para o desenvolvimento de um país. No Brasil, poucos estudam em escolas privadas que lhes permite acesso à universidade. A maioria da população resta uma escola pública sucateada, prédios decadentes, professores mal pagos e sem meios para aprimoramento profissional. Para Darcy Ribeiro, a escola pública tradicional é uma escola “desonesta” para com os filhos das camadas pobres por negar-lhes o direito de ler, escrever e contar.
Cuba, com parcos recursos, possui modelo de educação com todas as crianças em escolas de tempo integral. França, Alemanha, Coreia do Sul e Japão, países desenvolvidos, aumentaram a carga horária escolar para fortalecer o ensino.
Há mais de 30 anos, Leonel Brizola criou, no Rio de Janeiro, com Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyrer, os Centros Integrados de Educação Pública – Cieps, recepcionados por Alceu Collares em Porto Alegre e no Estado. Ora voltam a debate as escolas de tempo integral para resgatar crianças pobres da exclusão social, da violência e da criminalidade.
Programas utópicos que ampliam a carga horária dos alunos ainda não são escolas de tempo integral. O projeto político-pedagógico integral exige, além da ampliação horária, a concepção arquitetônica de salas de aula, biblioteca, laboratório de ciências, de informática e de línguas estrangeiras, salas de artes, quadra coberta, refeitório, cozinha industrial e local para participação da comunidade – não adaptações inadequadas de espaços já existentes.
O projeto pedagógico integral centrado na realidade deve priorizar a aprendizagem como processo gradual e acolher ideias de Piaget e Vigostsky sobre a herança cultural e social do aprendiz. O currículo deve acrescer às disciplinas do núcleo: Direitos Humanos, Meio Ambiente e Cidadania, Leitura e Produção de Texto, habilidades e competências fundamentais ao processo de aprender.
Ao Estado cabe criar essa escola para todos: alunos, professores e trabalhadores em educação, reunir projeto pedagógico, condições físicas de trabalho e de acesso ao conhecimento; e sustentar a formação dos professores e suas conquistar profissionais. Apenas uma escola de educação integral na acepção ampla da palavra pode garantir uma educação pública de qualidade.


Professora de Língua Portuguesa, pós-graduada em Gestão da Educação



Fonte: Correio do Povo, página 2 de 23 de outubro de 2015. 

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