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A CRISE JÁ ATINGE OS MAIS POBRES E COMEÇARÁ A TER REPERCUSSÕES POLÍTICAS!

1. Este Ex-Blog, numa nota, dias atrás, chamava a atenção para uma característica da crise brasileira. A crise atual começou afetando as empresas, inclusive as maiores atingidas pela lava-jato, diretamente e em seu multiplicador. Em seguida, chegou à classe média. A venda de bens duráveis, automóveis em primeiro lugar, despencou. As inadimplências bancária e comercial subiram.
               
2. Os setores de baixa renda eram os menos atingidos em função da rede de proteção social construída nos últimos 20 anos e intensificada nos últimos 10 anos. Essa rede de proteção social vai muito além do bolsa-família, pois abrange os sistemas sociais, previdenciário e de emprego. Na medida em que aumente a taxa de exclusão e de pobreza, a demanda de entrada na rede de proteção social aumentará. Mas as medidas adotadas contra a crise fiscal reduzem a rede de proteção social e dificultam a entrada nela dos novos pobres. E isso ocorre nos níveis federal, estadual e municipal.
               
3. O editorial da Folha de SP (22) é elucidativo: “Em meio à queda livre da economia brasileira que se observa desde o início do ano, o aumento do desemprego é o dado mais preocupante. Projeções de que a taxa de desocupação atingirá dois dígitos, consideradas alarmistas há poucos meses, soam agora plausíveis.   A população ocupada caiu 3,5% em outubro, em relação ao mesmo mês de 2014, um ritmo inédito na série histórica. Por sua vez, a taxa de desemprego subiu para 7,9%. Há um ano, era de 4,7%.  A alta só não é maior porque continua a encolher a parcela dos que procuram emprego que diminuiu de 56,2%, há um ano, para 55,4% em outubro.”
             
4. “Se o índice tivesse ficado constante, o desemprego estaria em torno de 9%. Talvez esteja em curso, por ora, o chamado "efeito desalento" –muitos indivíduos deixam de procurar emprego por acreditar que dificilmente terão sucesso em uma conjuntura tão negativa. Alguns recorrem às famílias, outros contam com seguros pagos pelo governo. Outra consequência desse quadro está na queda da massa real de salários: decréscimo de 10,3% no período. Trata-se do pior resultado desde 2003, quando caiu 12%. Não espanta que a recessão ora se aprofunde, com queda adicional das vendas e dos empregos.”
             
5. O Globo (20) mostra que a desintegração do mercado de trabalho ocorre principalmente nas metrópoles. Isso sempre amplia a violência pelo estresse que provoca nas famílias, nas escolas, nos locais de entretenimento e nas ruas. “825 mil pessoas perderam o emprego elevando para 1,9 milhão o número de desempregados das seis maiores regiões metropolitanas do país, 67,5% mais que um ano antes. Já a renda média real dos trabalhadores (já descontada a inflação) ficou 7% menor. — Esse salto astronômico anual da taxa é simbólico. É a deterioração de um dos índices mais importantes do mercado de trabalho. Uma calamidade. É surpreendente que você conseguiu no décimo mês do ano ter um recuo considerável em várias variáveis: na taxa de desemprego, na renda, ocupação e no trabalho com carteira — destaca o economista João Saboia, professor da UFRJ.”
           
6. “O rendimento médio real dos trabalhadores foi R$ 2.182,10, contra R$ 2.345,81 de outubro de 2014. A queda de 7% só é menor do que os 13,5% registrados em 2003. A massa de rendimento, ou seja, o total pago a todos os trabalhadores, ficou em R$ 49,6 bilhões em outubro. Caiu 1,7% frente a setembro e despencou 10,4% na comparação com igual mês do ano anterior.”
           
7. As pesquisas de opinião nos últimos dias mostram que as taxas de rejeição aos governos e aos políticos já equiparam a classe média aos mais pobres. E mais grave: cresce a taxa de desesperança em relação ao futuro e o número de empresas e de pessoas que emigram na busca de dias melhores é recorde. A crise social chegando aos mais pobres torna a crise política ainda mais complexa, as ruas mais ocupadas e dificulta a aprovação de leis de ajuste fiscal com repercussões sociais.

Ex-Blog do Cesar Maia

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