A Grécia
jamais teria entrado na zona do euro se dependesse apenas da
Alemanha, pois desde que os gregos se candidataram para fazer parte
dos países ricos da Europa que os alemães alertavam para a frágil
economia dos pretendentes. Theo Waigel, ministro da Economia da
Alemanha, entendia que a Grécia era um país de economia semi
agrária, sem indústrias fortes e incapaz de fazer frente ao poder
econômico da França e da própria Alemanha.
O temor
da Alemanha, que comandava a criação do euro, uma moeda forte para
enfrentar o dólar, não aceitava a Grécia com seu sistema de gestão
nacional considerado pouco sério pelo padrões rígidos europeus e
sem condições de entrar num projeto de moeda única para a nova
comunidade internacional que estava em formação.
Muito
parecida com o Brasil, a Grécia sempre foi uma desordem geral pelos
seus desgovernos com privilégios inaceitáveis para servidores
públicos e mamatas para alguns tipos de aposentadoria.
Quando
foi aceita na zona do euro, em 2001, a Grécia do dracma
desvalorizado adotou o euro como moeda e achou que era rica, pois
passaria a tomar empréstimos numa moeda forte, sem fazer os ajustes
de austeridade necessários. A farra, pelo contrário, foi ainda
maior. Mesmo assim, recebeu empréstimos bilionários e se endividou
além de sua capacidade batendo um recorde de endividamento – 105%
do seu PIB.
Hoje,
a Grécia assumiu que está quebrada, não por culpa dos
“capitalistas exploradores” da zona do euro, mas porque acreditou
que estava rica sem ter suado e trabalhado para adquirir essa
condição.
A
austeridade exigida para fazer cortes nos privilégios foi ignorada e
os governos foram frouxos para acabar com eles. O país tem sonegação
tributária calculada em 30% do PIB e quando o governo resolveu
criar um imposto sobre piscinas (?) para tributar dezenas de milhares
de milionários com suas mansões cinematográficas no mar Egeu,
apenas seis – sim, seis! - declararam intenção de pagar o Fisco.
Imposto
de Renda quase não existe para os gregos e vale lembrar uma
observação do jornalista Joelmir Betting, que se espantou ao saber
que há mais proprietários de automóveis Porsche que contribuintes
de imposto de renda na Grécia.
O dilema
grego será resolvido no próximo domingo com uma consulta popular
para saber se o pais quer continuar na zona do euro. Se ficar, um
lote de novas medidas de austeridade deverá ser cumprido. Se sair,
ninguém sabe como será o futuro dos gregos.
Mamatas
(1)
Com
11 milhões de habitantes, a Grécia tem uma elite riquíssima que
desfruta de uma vida comparável à dos grandes milionários
europeus. Além disso, uma outra elite de servidores privilegiados
também usufrui de benesses incompatíveis com o padrão de vida da
maioria da população.
Mamatas
(2)
A
seriedade de alguns governos europeus não consegue compreender como
o governo grego paga aposentadoria para 40 mil filhas solteiras de
funcionários falecidos, as quais, na verdade, têm maridos, filhos,
milhares delas com empregos e uma vida muito boa com a renda
vitalícia indevida.
Privilégios
A
Grécia tem hoje 600 profissões consideradas de “alto risco”,
cujos gregos enquadrados neste item podem se aposentar aos 50 anos de
idade com 95% do último vencimento. Entre as profissões de risco
estão cabeleireiros e tintureiros.
Alguma
semelhança?
Recentemente,
em uma revisão nas aposentadorias dos gregos, o governo detectou
quase 10 mil famílias recebiam benefícios de pessoas mortas,
milhares delas havia mais de dez anos. Alguma lembrança de
semelhança com o Brasil?
Prêmios?
Servidores
públicos que batem o ponto regularmente e dentro do horário
estabelecido ganham no final do mês um abono no seu contracheque
pelo cumprimento do dever. Nenhum país sério suporta tanta mordomia
e tanto desgovernos. A gestão pública grega lembra muito os modelos
das republiquetas latino-americanas.
Fonte:
Correio do Povo, página 6 de 2 de julho de 2015.
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