Foi um
amor célebre este de Mirabeau por Sophie, que anos depois inspirou o
belo livro de Gastineau. Com auxílio das autoridades, o pai
retirou-o do exílio e confinou-o nos torreões de Vincennes, o mesmo
lugar em que Diderot foi preso. Lá, detido de 1777 a 1780, o ovelha
negra dos Riquetti escreveu o seu melhor ensaio sobre o despotismo,
denunciando as chamadas cartas de encerramento, que permitiam ao rei
e a seus favoritos prender quem quisessem sem processo formal de
culpa.
Um
Venal
A
revolução tornou-se o seu palco. Praticamente saiu das galés ao
Olimpo. Na assembleia de deputados, ele impunha temor nos colegas por
ser um homem capaz de tudo e também por sua imensa e diversificada
cultura. A sua legenda começou a declinar quando, depois da queda de
Luís XVI em 1792, encontram-se nas anotações privadas do soberano,
no célebre “armário de ferro”, as provas de que Mirabeaus havia
feito um pacto secreto com a monarquia. Jogava dos dois lados, da
revolução e da reação. A comissão real foi 208 mil libras, o
suficiente para ele acalmar os credores, além de receber mais seis
mil libras mensais. Uns tempos depois, Mirabeau teve também um
encontro secreto com a rainha Maria Antonieta, que o detestava por
ter traído sua carta social. No frondoso parque de Saint-Cloud, um
Mirabeau galante disse-lhe: “Madame, a monarquia está salva!”
Alguns dos seus admiradores tentaram minimizar o achado dizendo
“qu'il était payé, non vendu”. Pagaram-no mas não o
compraram.
A
Retirada dos Despojos
Durante
os furores jacobinos de 1794, sob a tutela do virtuoso Robespierre,
seu corpo foi retirado do Panteão e jogado na vala comum dos
supliciados no cemitério de Clamart. Já em 1847, Michelet reclamava
a necessidade de perdoar-se Mirabeau: “São demais para este pobre
homem de cinquenta anos de expiação!” Nem Ortega y Gasset
resistiu-lhe ao fascínio, deixando-nos um magistral ensaio, Mirabeau
ou o político, que ainda é um dos melhores estudos comparativos
entre o intelectual e o político. O mesmo se dá com o historiador
François Furet, que apesar de reconhecer-lhe a inaudita vilania, se
curva perante o personagem e, um pouco antes de falecer, pediu as
autoridades que trouxessem os restos do grande tribuno de 89 de volta
ao Panteão para que fique aos pés de Rousseau e de Voltaire. Se bem
que ergueram em Paris uma ponte com seu nome, em 1893, num país do
qual um de seus presidentes aceitou diamantes de um ditador canibal,
porque afinal não perdoar Mirabeau?
Fonte:
História, por Voltaire Schilling
Nenhum comentário:
Postar um comentário