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sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Dólar fecha a R$ 5,17, com depreciação atenuada por fluxo

 Alta registrada foi de 0,08% nesta quinta-feira



As incertezas quanto à inflação e, principalmente em relação à dinâmica da política monetária a ser seguida pelos bancos centrais das principais economias do globo, levaram ao fortalecimento do dólar frente a divisas fortes e de emergentes na sessão desta quinta-feira. No Brasil, porém, o interesse de investidores estrangeiros por ativos locais que se perpetua, atenuou a depreciação do real.

Nesse sentido, depois de atingir o pico intraday, a R$ 5,2069, na etapa vespertina, o moeda voltou para chegar ao encerramento do pregão à vista a R$ 5,1720, em alta de 0,08%, maior nível desde 4 de agosto (R$ 5,2204). Ainda assim, segue com perdas de 0,04% no acumulado deste mês frente ao real. Matheus Pizzani, economista da CM Capital, ressalta que a situação econômica na Europa, com a inflação muito elevada, e uma leitura mais hawkish da ata da mais recente reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) que foi divulgada na quarta colocam um viés mais negativo com relação à postura que as autoridades monetárias devem ter nos próximos encontros para definir o nível do juro.

Dados finais confirmaram nesta quinta que a taxa anual da inflação ao consumidor (CPI) da zona do euro acelerou para o nível inédito de 8,9% em julho, ainda refletindo os efeitos da guerra da Rússia na Ucrânia. O salto recorde mantém a pressão para que o Banco Central Europeu (BCE) siga elevando seus juros básicos. Para a Oxford Economics, a alta deve ser de 50 pontos-base em setembro, apesar da piora nas perspectivas de crescimento do bloco.

Do outro lado do Atlântico, o presidente do Federal Reserve (Fed) de St. Louis, James Bullard, afirmou nesta quinta-feira que "se inclina por uma alta de 75 pontos-base neste momento" nos juros, na próxima reunião do Fed, em setembro. Em entrevista ao Wall Street Journal, ele disse também que ainda não é possível afirmar que o pico do atual ciclo de inflação tenha passado. Para ele, que vota nas reuniões, continua a ser importante que o Fed eleve os juros para a faixa de 3,75% a 4,00% até o fim deste ano.

Já o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, explicou que cerca de dois terços da inflação dos Estados Unidos devem ter sua causa em fatores externos ao país, como a alta do preço do petróleo e gargalos de oferta e reflexos da guerra da Rússia na Ucrânia. Assim, fatores domésticos seriam responsáveis por um terço.

No Brasil, a valorização do dólar tem sido contida pelo ingresso de investimentos estrangeiros. Em evento do BTG Pactual, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o real foi a melhor moeda do ano com desempenho melhor que outras divisas. "Entendemos que o fluxo deve se intensificar para projetos mais longos. Tem movimento da Petrobras que impacta."

Taxas de juros

Os juros fecharam em alta num mercado nesta quinta-feira muito marcado por movimentos técnicos em função do megaleilão de prefixados, o maior do ano, realizado pelo Tesouro, que teve o lote em DV01 (risco) mais elevado desde junho de 2021. Com boa parte do volume (20 milhões) concentrado na LTN 2026, as taxas do miolo da curva dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) foram as que mais subiram.

Além do leilão, o cenário externo de maior aversão ao risco ajuda também a explicar a abertura da curva, com os investidores mais inseguros sobre a política monetária do Federal Reserve e seus efeitos na economia.

A taxa do DI para janeiro de 2023 fechou em 13,72% (máxima), de 13,71% no ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2024 voltou aos 13%, encerrando em 13,01%, de 12,86%, e a do DI para janeiro de 2025, ficou novamente acima dos 12%, em 12,02% (máxima), de 11,87%. A taxa do DI para janeiro de 2027 terminou em 11,71%, de 11,59%.

A oferta grande de NTN-B vista na terça-feira já prenunciava o que seria o leilão de prefixados nesta quinta, mas ainda assim os 23 milhões de LTN lançados surpreenderam - na semana passada foram 11 milhões. Já a oferta de NTN-F, de 650 mil, foi bem menor do que os 2 milhões da anterior.

De todo modo, segundo a Renascença DTVM, o DV01 de ambas, de US$ 926 mil, foi o maior desde a operação de 10/06/2021, quando ficou em US$ 981 mil. Houve demanda integral pelas LTN 1/10/2023 (1 milhão), 1/10/2024 (2 milhões) e 1/1/2026 (20 milhões). O mercado também absorveu ambos os lotes de NTN-F 1/1/1029 (500 mil) e 1/1/2033 (150 mil).

Para o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier, alguns fatores explicam a agressividade das ofertas recentes. Segundo ele, entre meados de julho e começo de agosto, a curva do DI abriu bastante, dificultando as colocações, num cenário de muita incerteza com a inflação tanto aqui quanto no exterior. Porém, desde então, houve alívio nos prêmios de risco abrindo caminho para o Tesouro retomar os lotes mais expressivos. "Além disso, entramos numa janela de vencimento de papéis bastante forte, com dinheiro na praça. Então o Tesouro aproveitou essa liquidez, o momento em que as taxas baixaram e também porque tinha ficado um pouco para trás", afirma, destacando que o segmento de renda fixa está "captando bem" e tem condições de absorver grandes quantidades.

Os DIs abriram o dia sem tendência definida, mas se firmaram em alta e batendo máximas no momento de divulgação do edital do leilão. Passada a operação, devolveram parcialmente a pressão, embora parte das taxas tenha retomado o fôlego no começo da tarde. A quinta-feira foi de cautela nos mercados em geral com os investidores avaliando como exagerada a leitura "dovish" feita na quarta-feira da ata do Federal Reserve. Com isso, a busca pela segurança dos Treasuries e do dólar deu o tom aos negócios.

No Brasil, o mercado monitorou a participação de Campos Neto, no painel no Macro Day 2022, organizado pelo BTG Pactual. No evento, afirmou que o mercado entende que "o trabalho do BC em juros está praticamente feito" e repetiu que o BC fez o ajuste "mais cedo e mais rápido".

As declarações foram lidas como mais um sinal da intenção do Banco Central de parar de subir a Selic, apesar dos reiterados alertas na seara fiscal e do reconhecimento de que os núcleos da inflação e a inflação de serviços estão rodando em níveis elevados.

Bolsa

Vindo de quatro sessões positivas que sucederam leve ajuste negativo pós-sete ganhos - dito de outra forma, nada menos de 11 ganhos em 12 sessões, de 2 a 17 de agosto -, o Ibovespa chegou a ensaiar pausa ou discreta realização nesta quinta-feira. Mas, nos ombros de Petrobras (ON +1,32%, PN +2,01%), encontrou fôlego para fechar em leve alta de 0,09%, aos 113.812,87 pontos, com giro financeiro a R$ 28,9 bilhões na véspera de vencimento de opções sobre ações.

Nesta quinta, a referência da B3 oscilou entre mínima de 113.303,90 e máxima de 114.375,45 pontos, saindo de abertura aos 113.707,76. No mês, o Ibovespa acumula ganho de 10,32% e, no ano, de 8,58%. Na semana, o avanço está em 0,93%.

Acentuando ganhos em direção ao fechamento, Petrobras foi decisiva para que o Ibovespa alcançasse o quinto ganho seguido, em dia de variação negativa para Vale (ON -0,75%), de perdas até 2,77% para a siderurgia (CSN ON) e de falta de sinal único para os grandes bancos (Bradesco PN +0,61%, Unit do Santander +1,06%, BB ON -2,31%).

Nesta quinta-feira, as perdas em ações de construtoras (MRV -4,17%) e de empresas de serviços e consumo, como CVC (-3,84%), Petz (-3,31%) e Americanas (-4,28%), além de Yduqs (-5,28%) e Méliuz (-3,03%), todas com exposição à economia doméstica, impuseram-se ao índice, segurando a ponta negativa do Ibovespa. No lado oposto, destaque para Natura (+5,31%), 3R Petroleum (+4,43%) e Hapvida (+4,34%).

"Se olhar o 'book', nos contratos mini (futuros), há muitas ordens de venda colocadas ali na região dos 116, 116,5 mil pontos, uma região que deve ser uma resistência importante para o Ibovespa. O momento começa a ser de proteção de carteira, com o Ibovespa vindo de uma longa série de 24, 25 sessões, com poucas perdas, quatro ou cinco apenas", diz Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest. "Com o início formal da campanha eleitoral, a volatilidade deve aumentar com as declarações dos candidatos. A conversa tende a ser muito mais sobre benefícios do que responsabilidade fiscal. É já o que se vê em declarações de Lula sobre o uso dos bancos públicos em linha auxiliar à política social e o Bolsonaro, hoje, com promessa sobre aumento para o funcionalismo em 2023", acrescenta.

Assim, Banco do Brasil ON (-2,31%) esteve na ponta perdedora entre as grandes instituições financeiras, aparando parte dos lucros na ação deflagrados na semana passada pelo entusiasmo em torno do balanço trimestral do banco, que trouxe fortes resultados.

"Há fluxo e considerando o noticiário doméstico, muito de positivo já foi para o preço dos ativos. Mas do exterior ainda pode vir algo, especialmente sobre os juros americanos caso se confirme a expectativa de alta menor, de 50 pontos-base, para a taxa de juros de referência (na próxima reunião do Fed, em setembro)", observa Farto.

"Estamos a 45 dias das eleições e isso terá mais interferência, relevância para o nosso mercado daqui para frente. Depois de vários dias de recuperação no Ibovespa, enxergamos também uma abertura na curva de juros futuros, principalmente no trecho intermediário, para 5 anos, com vencimento em janeiro de 2027, que afeta em particular os índices de consumo e imobiliário, muito dependentes da curva", diz Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos.

"O mercado aqui já trabalhou em volatilidade hoje, desde cedo, considerando também o comportamento dos futuros, antes mesmo da abertura. No início da tarde, as quedas mais fortes estavam no índice imobiliário, e as menores nos índices industrial e de consumo, este ajudado pelo desempenho de Ambev (+2,89% no fechamento)", acrescenta Madruga, destacando também, pelo lado positivo, a recuperação em torno de 3% para o barril do Brent na sessão, o que contribuiu para o desempenho das ações de Petrobras, que deram bom suporte ao Ibovespa ao longo desta quinta-feira mesmo nos momentos negativos para o índice.

Agência Estado e Correio do Povo

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