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domingo, 17 de julho de 2022

Telescópio James Webb deve ser janela do Universo para achar vida fora da Terra, projeta astrônomo

 Coordenador do Departamento de Astronomia da USP, Roberto Dias da Costa, diz estamos apenas no começo das novas revelações



O mundo ficou impressionado - e igualmente intrigado - com a imensidão das primeiras imagens divulgadas pela Nasa do Telescópio James Webb. A sonda espacial trouxe visões sem precedentes do Quinteto de Stephan, da Nebulosa do Anel do Sul, da Nebulosa de Carina, um complexo de galáxias, onde é póssível observar uma de 13,1 bilhões de anos atrás, a análise da atmosfera de um exoplaneta. 

As fotos observadas são somente o começo da missão de Webb. "Não se trata de maneira alguma do resultado final da operação", salienta o coordenador do Departamento de Astronomia da Universidade de São Paulo (USP), Roberto Dias da Costa. Para ele, a janela aberta pela investigação espacial, inclusive, deve ser o primeiro passo para a humanidade encontrar vida fora da Terra.

"Entre as descobertas mais sensacionais que o Webb deve nos proporcionar eu destaco duas coisas. Primeiro, a demonstração da existência de atividade biológica extraterrestre. Essa descoberta, e com certeza ela irá acontecer, tem potencial para ser transformadora. Não só do ponto de vista científico, mas também ético, cultural, religioso e psicológico", projeta Dias da Costa. Esta vida, no entanto, não será como os diversos filmes no cinema trouxeram para o nosso imaginário. O astrônomo brinca que "naves chegando em Nova Iorque" são ficção científica e que acredita que as manifestações iniciais se darão em bactérias ou algas. 

Outro ponto que anima Dias da Costa sobre as perspectivas futuras está dentro da astrofísica e de suas pesquisas na academia. Ele confia que o Webb irá elucidar a natureza da Energia Escura e outro mistério moderno da ciência. "Quais as razões da expansão do universo estar acelerando? Isso intriga astrônomos e astrofísicos". Ele recorda que o telescópio estará na vanguarda do conhecimento, mas não sozinho. Outros estão sendo projetados. "Teremos telescópios com mais de 20 metros de diâmetros, chamados de ELTs, são parte fundamental e serão nas próximas décadas de estudos". 

Importância para a humanidade e as principais revelações já feitas pelo Webb

Projetada há 25 anos atrás, a bilionária missão - com valor aproximado de 10 bilhões de dólares - tem seus impactos para o Planeta Terra e a humanidade em dois aspectos primordiais: desenvolvimento tecnológico e de conhecimento. "Os avanços tecnológicos são puxados pelas pesquisas básicas. A eletrônica surgiu assim, em muitas pesquisas relacionadas à astronomia. Notebook é outro exemplo que aparece nas pesquisas de exploração da lua. Temos uma quantidade enorme de subprodutos (...) o ponto fundamental continua sendo o avanço do conhecimento. Saímos das cavernas por sermos curiosos. A curiosidade em entender nosso entorno, nos leva para frente", explica o astrônomo. 

Imagem foi divulgada na tarde desta segunda-feira

Aglomerado de galáxias - Foto: Nasa / AFP / CP

Nos registros publicados pela Nasa é possível observar um conjunto de galáxias a uma distância de 4,6 bilhões de anos luz (acima) que gera um efeito de lente gravitacional e permite enxergar objetos primordiais, ainda mais distantes. "Essa foto é uma das que mais me chamou a atenção. No fundo da imagem, tem uma galáxia de 13,1 bilhões de anos atrás. Como o universo tem 13,8 bilhões de anos, significa que estamos observando uma galáxia do primeiro bilhão de ano. É uma galáxia primitiva, com uma área imensa para pesquisa", pontua Dias da Costa.

A relação com o tempo traz dúvidas sobre sua passagem no espaço. O astrônomo explica que o olhar do Webb é profundo e vai mais atrás no tempo em comparação com o Telescópio Hubble, seu antecessor. "Vamos lembrar que a informação no universo não viaja instantaneamente. Ela tem uma certa velocidade, a velocidade da luz. Quando olhamos para o sol, por exemplo, vemos ele como era oito minutos atrás. É o tempo que a luz demora para vir até a Terra. Se você olha a outra estrela mais perto, ela está a quatro anos luz". 

Quinteto de Stephan - Foto: Nasa / AFP / CP

Os exoplanetas, planetas em torno de estrelas que não o Sol, também chamaram a atenção do astrônomo. "Destaco o espectro do exoplaneta mostrando a presença da molécula de água. São um tema de ponta atualmente e é novo. Sempre brinco que, quando comecei a estudar, se conhecia dois planetas em torno de outras estrelas e pela ficção cientifica: 'Vulcano e Tatooine'. Hoje, já conhecemos mais de 5,2 mil". De acordo com ele, a maneira que o Webb rapidamente identificou a presença de água, irá auxiliar no avanço dos estudos de maneira contundente. "Quem estuda exoplanetas está atrás dos biomarcadores, são moléculas que indicam atividade biológica, como metano, ozônio etc". 

Diferenças Webb x Hubble 

A principal mudança entre Webb e Hubble está na capacidade de captação. "O Hubble opera na faixa visível ultravioleta e o Webb opera no infravermelho. Não são imagens idênticas, são análogas. O aglomerado de galáxias é análoga com uma imagem que o Hubble fez usando vários dias e foi feita com 12 horas de exposição". O diâmetro do Webb é três vezes maior em relação ao Hubble. "Isso significa que ele tem uma área dez vezes maior. Ele já foi projetado desde sua construção para ser o mais eficiente possível na faixa infravermelha do espectro. Os espelhos são de ouro", acrescenta Dias da Costa.

Fotos receberam edição?

A beleza causou dúvida sobre o realismo das imagens. O astrônomo esclarece que elas sofreram pequenas alterações para chegar na faixa visível, com uma paleta de cores compatível com a física de cada objeto. "O telescópio opera na faixa do infravermelho, pois ela é mais eficiente para os objetivos dele. Todas imagens foram coletadas no infra e depois processadas de maneira a chegar a faixa visível com uma paleta de cores compatível". 

Nebulosa do Anel Sul - Foto: Nasa / AFP / CP

Dias da Costa utiliza o retrato do aglomerado das galáxias e da Nebulosa do Anel Sul para explanar seu ponto. "A foto tem galáxia com tons em brancos azulados, mais jovens, e outras em tons avermelhados, mais antigos e distantes. Os tons foram escolhidos e ajustados pelo computador. Isso foi feito para que os resultados revelassem o máximo possível das características físicas (...)  a Nebulosa Planetária NGC 3132, passa pelo mesmo processo. Ela tem uma paleta de cores, escolhida para realçar nuances, a composição química da parte mais interna e externa do objeto. Tudo foi processado com muito cuidado". 

 

Ouça "Astrônomo analisa nova janela para o Universo com primeiras imagens do James Webb" no Spreaker.


Correio do Povo


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