Por Roberto Rachewsky
Zygmunt Bauman, filósofo polonês, disse certa vez que para Sigmund Freud, civilização é sempre uma troca. E que ele, Bauman, considerava, escolher a liberdade, renunciando a certa segurança ou escolher a segurança, renunciando a certa liberdade, uma dicotomia insolúvel.
Falso dilema.
Quando falamos em segurança, nos referimos à segurança do quê mesmo? O que queremos assegurar, afinal de contas, para que possamos usufruir da civilização?
A vida em sociedade é uma conquista civilizatória. É assim que os seres humanos obtêm aquilo que, vivendo isolados do resto do mundo, não conseguem: conhecimento ilimitado, oportunidades para cooperar, criar, produzir e trocar valores, incrementando o próprio padrão de vida e dos outros.
Viver isolado oferece a vantagem de não sermos incomodados por ninguém. Somos livres para fazer o que bem entendermos, usufruindo de tudo que criamos, sem que ninguém nos perturbe, querendo o que é nosso sem ter feito nada por merecer.
A segurança que desejamos, quando passamos a viver em sociedade, é a de manter nossa liberdade intacta, exatamente como seria se vivêssemos isolados.
Segurança significa isso, conviver no contexto social, com a certeza de que não perderemos a vida, a liberdade e a propriedade, porque alguém resolveu violar nossos direitos.
Não existe dicotomia entre segurança e liberdade. Vivendo isolados ou em centros urbanos, sem segurança não temos liberdade e sem liberdade não temos segurança de nada.
Segurança é a certeza de que não seremos vítimas da coerção, não da liberdade. Liberdade é a certeza de que poderemos agir de acordo com o nosso julgamento para criar os valores que necessitamos para garantir nossa existência, realizar nossos propósitos, buscar a nossa felicidade.
Segurança é um direito individual tão inalienável quanto aqueles que no seu exercício se procura proteger. Sem segurança para proteger nossa vida, liberdade e propriedade no contexto social, inexiste civilização. Quem iria querer viver numa sociedade dessas? Somente os que se aproveitam da falta dela para obter o que não conseguiriam se ela imperasse.
Prover o máximo de segurança para que os indivíduos possam viver o máximo de liberdade possível, é o papel de um governo numa sociedade civilizada.
Liberdade é ausência de coerção. O propósito da segurança é combater a coerção, não a liberdade.
Quando quiserem tirar um pouco da tua liberdade prometendo mais segurança, cuidado!
Saiba que isso não é uma dicotomia, muito menos um dilema. É apenas um engodo.
Pontocritico.com
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