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segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Papa abre maior consulta democrática da história da Igreja Católica, que pode mudar futuro da instituição

 


Neste fim de semana, o papa Francisco abriu o que pretende ser o maior movimento de consulta democrática da história da Igreja Católica, uma religião que, aos longo dos séculos, se tornou símbolo de hierarquia rígida, conservadorismo e pouca transparência — e, de quebra, comanda um Estado, o Vaticano, de forma teocrática.

Nos próximos dois anos, Francisco quer que a imensa maioria dos católicos — idealmente, todos os 1,3 bilhão que se declaram assim — sejam ouvidos sobre o futuro da Igreja. Para tanto, conta com impulsos de comunidades locais, em uma primeira fase, assembleias regionais, no estágio seguinte e, por fim, o Sínodo dos Bispos marcado para acontecer em 2023 no Vaticano.

Temas que vêm sendo trazidos à tona mais recentemente, como maior participação feminina na tomada de decisões da Igreja e mais acolhimento a grupos ainda marginalizados pelo catolicismo tradicional — de homossexuais a divorciados em segunda união —, devem aparecer de forma recorrente nesse processo de consulta pública, a maior já realizada na milenar história do catolicismo.

Além disso, Francisco deve utilizar esse momento para consolidar uma aposta evidente em seu pontificado reformador. Ao definir que o próximo sínodo terá como tema a própria sinodalidade (maneira de ser e de agir da Igreja), ele se inspira no modo de vida dos primeiros cristãos, cujas decisões eram tomadas de forma colegiada.

Contudo, se o sucesso for atingido, a instituição terá dado um passo importante. Para especialistas, a chamada sinodalidade pode deixar de ser um método para se tornar um jeito de pensar. O que significa que o modelo levado ao extremo por Francisco dificilmente poderá ser deixado de lado, mesmo quando outro for o papa.

A voz do povo

Um sínodo para tratar a sinodalidade não deve ser entendido como mera metalinguagem. O atual pontífice mostrou mais uma vez, e de modo contundente, que acredita numa Igreja que ouça os anseios dos cristãos. De todo o mundo.

Este futuro encontro dos bispos, portanto, não irá se restringir às conferências encabeçadas por religiosos dentro dos muros do Vaticano. O que começou neste fim de semana é um processo de sinodalidade que pretende estar aberto a ouvir todos os católicos que queiram se expressar nos próximos dois anos. Isso significa 1,3 bilhão de pessoas, metade de todos os habitantes da Terra, que se declaram cristãos.

“É o mais amplo sínodo, a maior experiência de sinodalidade que já foi feita na Igreja”, comenta o vaticanista Filipe Domingues, doutor pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. “A proposta é ampla, pretende que todos os fiéis batizados tenham a chance de, em alguma parte do processo, serem consultados. Isso nunca existiu na história da Igreja: uma tentativa de consultar todos os católicos do mundo. É claro que ninguém vai bater de porta em porta para falar com todos. Mas reuniões e assembleias devem ocorrer em paróquias e em grupos, questionários devem ser aplicados. A ideia é que todos se sintam tocados a participar”, contextualiza Domingues. “É a tentativa mais ampla de enraizar a sinodalidade não mais como um processo e uma forma de fazer as coisas, mas como uma mentalidade da Igreja.”

O que é

A palavra sínodo vem da junção de dois termos gregos, synodos (reunião ou conselho) e hodós (caminho). Sinodalidade, portanto, é uma maneira de acreditar que o caminho depende do entendimento conjunto. Que as decisões não devem ser impostas por uma autoridade, mas precisam brotar das bases.

Desde que assumiu o comando da Igreja e se tornou papa Francisco, em 2013, o argentino Jorge Bergoglio tem demonstrado que é assim que acredita um futuro possível. De certa forma, recupera o modus operandi das primeiras comunidades cristãs, antes de a instituição se tornar poderosa e influente. Naqueles primórdios, toda e qualquer decisão era colegiada.

Nesse percurso, Francisco também aprofunda uma ideia trazida no Concílio Vaticano II. Como resposta aos anseios expressos pelos padres conciliares, o então papa Paulo VI (1897-1978) criou em 1965 o Sínodo dos Bispos, esse encontro periódico a reunir representantes episcopais de todo o mundo para tratar de temas específicos.

De lá para cá, já foram 29 encontros, entre ordinários, extraordinários e regionais. Ao abrir o próximo, cuja reunião final será em 2023, em evento na Sala Nova do Sínodo, no Vaticano, Francisco radicaliza algo que vinha buscando desde o primeiro dos cinco sínodos já convocados por ele: a participação das comunidades.

O Sul

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