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sábado, 25 de setembro de 2021

Na véspera de deixar Esqueletão, comerciantes relatam desamparo e futuro incerto

 Sem novo endereço, dono de assistência técnica deixará prédio após 23 anos



Na véspera de se encerrar o prazo judicial para a saída voluntária, a maior parte dos comerciantes e moradores que ocuparam por anos o Edifício Galeria XV, também chamado de “Esqueletão”, já havia deixado o local. Para quem permanecia, o dia foi aproveitado principalmente para desmontar as lojas e avisar clientes de que o atendimento estava se encerrando, pois o prédio deverá ser desocupado até a meia-noite deste sábado.

Apenas dois estabelecimentos permaneciam funcionando com atendimento normal. O clima entre os comerciantes era de tristeza e incertezas. Eles consideraram muito curto o prazo de 30 dias para reintegração de posse, que foi determinado pela 10ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre. “Foi muito pouco tempo para a gente ir atrás de outro espaço”, avalia Magali Pasin, que precisou concentrar toda a relojoaria para uma das salas da Galeria do Rosário, um espaço menor. O resto permanecerá em um depósito.

Mas não falta quem esteja em situação pior. Ricardo Menda, que manteve sua assistência técnica para eletroeletrônicos por 23 anos, não sabe ainda para onde ir. “Estamos cumprindo a nossa parte com a saída pacífica, mas não temos novo endereço. O juiz pediu total apoio da Prefeitura e ainda não fizeram nada”, critica. Na loja de caça e pesca ao lado, a história se repete. Luiz Carlos dos Santos, proprietário do negócio, também não sabe onde poderá retomar sua atividade. “Todos nós aqui pagávamos o IPTU”, lembra. “Poderíamos ficar mais um pouco, meu alvará vale por mais um ano”, lamenta.

O técnico em eletrônica Alexandre Veleda prestava serviços em uma das lojas. Com o fechamento do prédio, não perdeu apenas sua atividade, mas o espaço onde dormia. “Vou ser acolhido numa casa”, explica. “Mas fica esse sentimento de desamparo”, diz. Adão Gonçalves, que também tinha um estabelecimento de manutenção de eletroeletrônicos, trabalhou por 10 anos no prédio. Ele também se queixa da demora para as definições sobre realocações por parte da Prefeitura. “Nos deram um papel para a gente preencher e aguardar pela realocação, mas até agora nada”, disse.

O secretário Municipal de Planejamento e Assuntos Estratégicos (SMPAE), Cezar Schirmer, reitera que a decisão da desocupação e o prazo de saída foram definidos pela Justiça. “Não é um prazo que a Prefeitura está dando”, salienta. A decisão, de fato, atende ao pedido da Procuradoria-Geral do Município (PGM) em ação ajuizada ainda no ano de 2003 contra os proprietários do prédio.

O secretário também estima que a desocupação ocorrerá de forma pacífica. Segundo ele, a Prefeitura está oferecendo transporte e auxílio-moradia aos moradores. Aos comerciantes, que se queixam de indefinições, garante que foi oferecido a eles espaço para se realocar no Pop Center, além de microcrédito especial.

O processo é acompanhado pela Procuradoria-Geral do Município (PGM), pelo Departamento Municipal de Habitação (Demhab), que realiza as mudanças, e pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc).

Com uma área superior a 13 mil metros quadrados, o edifício começou a ser construído na década de 1950 pela Sociedade Brasileira de Construção, sem nunca ter concluído. Dos 19 pavimentos erguidos, apenas os três primeiros são ocupados por moradias, algumas em situação precária. Em um balanço feito no mês passado, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo (SMDET) informou atividade de 13 estabelecimentos comerciais no térreo da galeria.


Correio do Povo

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