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sábado, 18 de setembro de 2021

Demanda reprimida faz procura por atendimento em emergências subir em Porto Alegre

 Nesta sexta-feira, a ocupação média das emergências nos hospitais contava com 276 internações



A procura por atendimento em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e emergências de Porto Alegre registrou aumento no último mês. No começo da noite desta sexta-feira, o monitoramento da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) apontava taxa de ocupação média das emergências de hospitais de 130,81%, com 276 internações.

No Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), a emergência adulta tinha 111 pacientes internados e lotação de 270,73%, quase três vezes mais do que o número de leitos disponíveis, que totalizam 41. Por conta disso, o atendimento na emergência estava restrito a pacientes em estado grave. 

De acordo com a gerente médica da Emergência Adulta do HCPA, Laurinda Medeiros Ramalho, a procura por atendimentos de pacientes sem sintomas de Covid-19 se intensificou na última semana, gerando superlotação da emergência da instituição.

Ela explica que muitas pessoas adiaram consultas e procedimentos eletivos por conta da pandemia. "Tem uma demanda reprimida mesmo, de pacientes do Interior com doenças de alta complexidade que não conseguiram atendimento", observa. "Vários pacientes com neoplasia, câncer sem diagnóstico, que ficaram sem receber os de devidos cuidados e estão entrando pela emergência", completa.

Atendimentos 

Pacientes com doenças cardiovasculares e pulmonares também estão buscando mais atendimento nesses locais. "No mês passado, houve bem mais pacientes com doenças respiratórias", afirma. Laurinda ressalta que o aumento da circulação da população favorece a contaminação por outros vírus. "Hoje, dos nossos 111 pacientes, apenas 9 têm diagnóstico de Covid-19", destaca. Por conta da superlotação, o Clínicas está com atendimento restrito na emergência adulta desde quinta-feira. "Estamos recebendo apenas pacientes em estado grave", destaca. 

Das sete emergências monitoradas, a da Santa Casa operava com 195,83% de ocupação, com 47 pacientes internados em 24 leitos disponíveis. A emergência do Instituto de Cardiologia tinha 35 pacientes, com 166,67% de ocupação. O coordenador municipal de Urgências da Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre, Daniel Lenz Faria Corrêa, explica que a maioria dos pacientes que buscam pelos serviços de urgência e emergência apresenta doenças crônicas, como problema vascular, cardiovascular e pulmonar sem relação com o vírus. "Notamos aumento progressivo de atendimentos no último mês desses pacientes", observa. 

Corrêa reforça que o avanço da vacinação contra o novo coronavírus apresenta 'ótimo efeito', por isso houve aumento de demanda de pacientes com outras doenças. "São pacientes que tiveram suas consultas adiadas, porque toda parte da saúde, da parte médica, estava focada no novo coronavírus. Com isso os pacientes ficaram em casa com medo de procurar uma unidade de saúde. O que antes era uma doença crônica agora virou uma doença crônica agudizada", compara.

"Os casos de coronavírus diminuíram substancialmente nas emergências. Hoje a procura por síndrome gripal não está nem entre as 10 principais causas de procura em emergências e pronto-atendimento", frisa. 

Ele garante que o crescimento da procura “não preocupa ainda”. Até o início da noite de hoje, a taxa de ocupação média dos pronto-atendimentos da Capital era de 136,33%, com 73 pacientes. Com 26 internações, o pronto-atendimento da Cruzeiro do Sul registrava o dobro da sua capacidade, com 216,67% de ocupação. A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Moacyr Scliar tinha 31 pacientes para 17 leitos disponíveis, registrando 182,35% de ocupação. E o PA da Lomba do Pinheiro tinha 16 pacientes e uma lotação de 177,78%.

Críticas ao Programa Assistir

Na avaliação de Corrêa, apesar do aumento da demanda pelos serviços de emergências e urgências na Capital, o sistema de saúde da cidade consegue dar conta dos atendimentos. Segundo Corrêa, o maior impacto nas emergências e urgências de Porto Alegre pode ocorrer a partir da implantação do Programa Assistir, do governo estadual, que visa, entre outras coisas, redirecionar recursos a hospitais para áreas como oncologia a partir do próximo ano. "Acho que é justo contemplar com incentivos essas áreas, mas algumas áreas foram esquecidas como por exemplo emergência e urgência", destaca. 

O receio é que hospitais de menor porte fechem as portas e a demanda recaia sobre o sistema de saúde da Capital. "A gente está com muito medo, pois muitos hospitais na Região Metropolitana já estão falando que se o Programa Assistir for colocado em prática, como está descrito hoje, não vão ter mais condições financeiras de se manter e vão acabar fechando", alerta.

"Eles não vão conseguir se manter abertos, porque a emergência não foi contemplada do ponto de incentivo, e muitas vezes são hospitais pequenos que basicamente têm uma emergência, uma internação clínica, e não têm uma especialidade de alta complexidade", acrescenta. 

Conforme Corrêa, Porto Alegre 'bem ou mal' vai dar um jeito de se reorganizar financeiramente. "A gente vai perder um pouco de dinheiro no Hospital Presidente Vargas (HPV) Hospital de Pronto Socorro (HPS), mas a prefeitura consegue se ajustar para não fechar nenhuma unidade. Nosso medo é que o Interior não tenha essa mesma condição financeira e possa vir a fechá-los, e nós realmente teremos uma sobrecarga de pacientes do Interior a partir do ano que vem. 

Serviços 

Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) informa que o Programa Assistir contempla 14 tipos de serviços, inclusive o porta de entrada, vinculado diretamente aos atendimentos de urgência e emergência. Conforme a SES, além do serviço porta de entrada, o programa criou o chamado suplementar diferencial, que são recursos que irão para os dois hospitais de pronto-socorro existentes no Estado e para os hospitais que atendem casos agudos de urgência e emergência em hematologia. 

A SES informa ainda que a redução de recursos que ocorreu na região metropolitana está diretamente vinculada ao número de hospitais orçamentados da região, 'lembrando que a orçamentação compromete 48,5% do total de recursos do Estado para incentivos e era repassado a menos de 8% dos hospitais'. De acordo com a pasta, dos 21 hospitais orçamentados, 15 (71,43%) estão localizados na macro metropolitana e, 'como consumiam a maior parte dos recursos com a orçamentação (que não estava vinculada à entrega de serviços à população), por óbvio, tiveram o maior impacto de redução'. 

A nota reforça que a macro Metropolitana tem 50 hospitais que tiveram impacto com o programa Assistir, sendo que 31 hospitais (62%) tiveram acréscimo de recursos. "No estudo comparativo entre hospitais semelhantes, identificamos situações de hospitais com 70% mais atendimentos do que outros, mas que recebiam 80% menos só de incentivo estadual, distorção que o programa corrige. Identificamos ainda instituições entregando muito menos em serviços de saúde à população e recebendo, proporcionalmente, muito mais recursos", destaca.

Além disso, a SES destaca que o Assistir 'corrige essas distorções e permite a equidade e isonomia na alocação de recursos públicos e, principalmente, vincula o incentivo à entrega de serviços à população, que paga o imposto e que merece retorno em serviço público de qualidade'. "Os hospitais que tiveram redução nos repasses tiveram o prazo para início da transição estendido, ou seja, os descontos só começam a ocorrer em janeiro do próximo ano, e de forma parcelada. O prazo irá permitir com que tenham tempo para adequar seu processo de gestão e para que avaliem as possibilidades de recomposição de recursos com base nos serviços necessários à população e que integram o Assistir", finaliza a nota.

Correio do Povo

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