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terça-feira, 12 de novembro de 2019

Especialistas avaliam ruptura democrática na Bolívia com influência de Forças Armadas

Ex-presidente Evo Morales renunciou na noite deste domingo

Forças Armadas contribuíram com instabilidade na Bolívia, dizem especialistas

Forças Armadas contribuíram com instabilidade na Bolívia, dizem especialistas | Foto: Aizar Raldes

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As Forças Armadas tiveram papel decisivo na renúncia de Evo Morales, pressionado por manifestações desde o dia em que venceu uma eleição marcada por denúncias de fraudes. Para analistas, a conclusão é que Evo minou sua legitimidade ao mudar as regras eleitorais para disputar uma nova eleição indesejada por grande parte do país.

Na avaliação de Lucas Leite, professor de relações internacionais da FAAP, houve uma ruptura democrática no momento em que o chefe das Forças Armadas exigiu que Evo deixasse o poder. "A entrada dos militares na questão mostra que a política foi colocada de lado. Militares não devem se ocupar de processos de nenhum país considerado democrático", afirmou, acrescentando que Evo já havia cedido a pressões, como a necessidade de realizar uma nova eleição, e tentava pacificar o país.

O cientista político Hussein Kalout, da Universidade Harvard, diz que Evo foi praticamente forçado a deixar o poder, mas acredita que agora é preciso analisar como se portarão seus apoiadores e opositores, já que nenhum dos lados tem apego claro às regras do jogo democrático.

"O vácuo de poder será preenchido de maneira constitucional? As novas autoridades conseguirão restabelecer a tranquilidade para organizar novas eleições transparentes e limpas?" questionou. Kalout defende que o Brasil ajude o país vizinho a organizar as eleições.

Para Denilde Holzhacker, professora de relações internacionais da ESPM, a concentração de poder nas mãos de Evo e o fato de não mais responder às expectativas da população fortaleceram o movimento por sua saída. "Houve manifestações com relação à falta de políticas públicas mais eficazes, à segurança, à presença do narcotráfico, à manipulação das eleições e à falta de renovação política", disse. "São fatores que criaram um caldo para as grandes manifestações que vemos."

Para Lucas Leite, parte da oposição liderada pelo advogado Luis Felipe Camacho tem discurso reacionário que nega a pluralidade e o multiculturalismo boliviano. "É um certo elitismo que rompe com o que era considerado um governo popular. Há um certo messianismo, com o uso da Bíblia, de armas e uma contraposição aos grupos menos privilegiados do país."

Na avaliação de Sérgio Veloso, da área de relações internacionais da PUC-RJ, a América Latina passa hoje por um processo de instabilidade, com o enfraquecimento das instituições democráticas e das economias. "A geopolítica da região está se redesenhando", afirmou. Para ele, há consenso de que o status quo não tem atendimento mais às demandas populares. "A questão é para onde vai o caminho das reformas", disse.


Agência Estado e Correio do Povo

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