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domingo, 18 de agosto de 2019

A ENCRUZILHADA DOS ARGENTINOS

Quando alguém pergunta por que os argentinos são vítimas de periódicos “terremotos” políticos, há quem responda que nossos vizinhos não são as únicas vítimas das acomodações geológicas de suas instituições, já que se trata de uma triste sina da América Latina, uma herança maldita de um colonialismo predatório no qual são personagens importantes os espanhóis e os portugueses. Mas a culpa é só deles?

Predar suas colônias era a política de todos os países conquistadores nos séculos passados e assim agiram os impérios europeus, indistintamente. Convém lembrar que o Canadá, a Nova Zelândia, a Austrália e os Estados Unidos também foram colônias “saqueadas” pelos ingleses e as três primeiras, hoje nações do Primeiro Mundo, ainda têm a imagem da Rainha Elizabeth II em suas respectivas moedas e fazem parte do Império Britânico.

Seriam os ingleses colonizadores diferentes dos espanhóis e dos portugueses ou fomos nós que não aproveitamos as virtudes transmitidas pelos nossos conquistadores? Afinal de contas eles trouxeram sua cultura, seus métodos educacionais, suas ferramentas, sua medicina, sua engenharia, etc. e tal. Onde falhamos?

Provavelmente, nossa falha histórica esteja na síndrome do coitadismo, na desculpa – fácil e dialeticamente sedutora – de que fomos explorados pelo imperialismo colonial, como se os americanos, os australianos , os canadenses e os neozelandeses (ou “kiwis”) não tivessem enfrentado o mesmo dilema, mas se livrado dele por métodos que deram certo.

Nós optamos por “libertadores” que com o passar dos séculos deixaram lições pouco edificantes, traduzidos hoje na atual classe política, seja ela argentina, brasileira, uruguaia, cubana, boliviana, venezuelana et caterva. Um corte histórico nos conduz a Argentina nos dias atuais que ainda vive umbilicalmente ligada ao peronismo, assim como nós ao getulismo e mais recentemente ao lulismo. No início e em meados do século passado, a Argentina era uma potência mundial – o petróleo foi descoberto na Patagônia em 1907; em 1908, Buenos Aires desfrutava do Teatro Colón (2.500 lugares), à época o melhor do mundo; em 1913, inaugurava o primeiro metrô da América Latina e a capital argentina, em 1920, era a maior cidade da América espanhola só ficando atrás de Nova York e Chicago, no chamada novo mundo.

A renda per capita e as reservas de ouro dos argentinos suplantavam as economias dos Estados Unidos e da Inglaterra. Talvez a Argentina seja a definição real de um brasilianista americano a nosso respeito.

“O Brasil é um país original, pois passou da barbárie à decadência sem ter conhecido o apogeu”. A Argentina não teve essa originalidade antropológica que o brasilianista nos atribuiu, pois ela conheceu o apogeu no início dos anos 1900 e – quem duvida? – iniciou sua decadência com o peronismo nos anos 1940. Juan Domingos Perón teve dois ídolos: Benito Mussolini e Adolf Hitler.

Deles tirou seus “ensinamentos” para governar a Argentina, tatuando no país o seu estilo populista e predador das riquezas nacionais.

Sua mulher, Eva Duarte Perón, se encarregou de manobrar as massas trabalhadoras, os “descamisados”, com discursos demagógicos e até distribuição de dinheiro vivo em suas manifestações públicas. Os melhores herdeiros do peronismo são os Kirchner – Néstor ( falecido em 2010) e Cristina. Ela quer presidir, outra vez, a Argentina.

O fantasma de Perón se encontra, outra vez, na encruzilhada dos argentinos. Em outubro próximo, talvez ele e Evita ressuscitem na pessoa de Cristina.

E desta vez não haverá a chance de culpar o capitalismo.

As veias abertas da América Latina saíram de moda para entrar na vida da Argentina a tragédia anunciada.


Rogério Mendelski

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