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terça-feira, 26 de março de 2019

Budismo–História virtual


Parte de uma uma série sobre
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Práticas[Esconder]
budismo (páli/sânscrito: बौद्ध धर्म Buddha Dharma) é uma filosofia[1][2] ou religião[1]não teísta[1] que surgiu originalmente na Índia por volta do século VI A.C. e abrange diversas tradições, crenças e práticas baseadas nos ensinamentos, o Darma (páli: Dhamma, sânscrito: Dharma), de Siddhartha Gautama, intitulado de Buddha. É dividido em três grandes tradições: theravada (também chamado de hinayana), mahayana e vajrayana (ou tantrayana).[3] Essas tradições englobam as mais diversas escolas budistas como o zenterra purakadampa e o budismo tibetano. É estimado que existam 500 milhões de seguidores no mundo, sendo considerada a quinta maior religião em número de adeptos no mundo.[4] O maior número de seus seguidores encontra-se no oriente em países como JapãoChinaTibete e TailândiaNo Brasil, segundo o censo de 2010, residem aproximadamente 245 mil budistas.[5].
As escolas budistas variam sobre a natureza exata do caminho da libertação, a importância e canonicidade de vários ensinamentos e, especialmente, suas práticas.[6][7] Entretanto, as bases das tradições e práticas são as Três Joias: o Buda (como seu mestre), o Dharma (ensinamentos baseados nas leis do universo) e a Sangha (a comunidade budista).[8]Encontrar refúgio espiritual nas Três Joias ou Três Tesouros é, em geral, o que distingue um budista de um não budista.[9] Outras práticas podem incluir a renúncia convencional de vida secular para se tornar um monge (sânscrito/páli: bhikkhu) ou monja (sânscrito/páli: bhikkhuni).

Índice

A vida de Buda

Ver artigo principal: Sidarta Gautama
De acordo com a narrativa convencional, o Buda nasceu em Lumbini (hoje, patrimônio mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) por volta do ano 566 a. C. e cresceu em Capilvasto:[10] ambos, atuais localidades nepalesas.[11][12] Logo após o nascimento de Sidarta, um astrólogo visitou o pai do jovem príncipe, Suddhodana, e profetizou que Sidarta ou iria se tornar um grande rei, ou renunciaria ao mundo material para se tornar um homem santo se, porventura, visse a vida fora das paredes do palácio.
O rei Suddhodana estava determinado a ver o seu filho se tornar um rei e, assim, impediu que ele saísse do palácio. Mas, aos 29 anos, apesar dos esforços de seu pai, Sidarta se aventurou por além do palácio diversas vezes. Em uma série de encontros (em locais conhecidos pela cultura budista como “quatro pontos”),[13] ele soube do sofrimento das pessoas comuns, encontrando um homem velho, um outro doente, um cadáver e, finalmente, um asceta sadhu, representando a busca espiritual. Essas experiências levaram Gautama, eventualmente, a abandonar a vida material e ir em busca de uma vida espiritual.
Sidarta Gautama estudou sob diferentes mestres e desencantou-se com o resultado alcançado pelo que ensinavam. Chegou a praticar ascese rígida, como jejum prolongado, restrição da respiração, e outras formas de exposição a dor, muito comuns naquele tempo na Índia, e quase morreu ao longo do processo. Mas houve um episódio no qual uma jovem lhe ofereceu comida e ele aceitouː isso marcou sua renúncia a tais práticas. Concluiu que as práticas ascéticas extremas não traziam os resultados que buscava. Deduziu, então, que as práticas eram prejudiciais aos praticantes.[14] Ele abandonou o ascetismo, concentrando-se na meditação anapanasati, através da qual descobriu o que hoje os budistas chamam de “caminho do meio“: um caminho que não passa pela luxúria e pelos prazeres sensuais, mas que também não passa pelas práticas de mortificação do corpo.[15]Em outras palavras, o caminho do meio não seria o caminho do apego a qualquer coisa, nem também o caminho da negação ou aversão a qualquer coisa, e sim uma terceira via.
Gautama com seus cinco companheiros, que, mais tarde, compuseram a primeira Sangha (comunidade monástica budista). Pintura da parede de um templo no Laos.
Quando tinha 35 anos de idade, Sidarta sentou-se embaixo de uma figueira-dos-pagodes (Ficus religiosa)[16][17] hoje conhecida como árvore de Bodhi,[15] localizada em Bodh Gaya, na Índia, e prometeu não sair dali até conseguir atingir a iluminação espiritual.[18][19][20]
lenda diz que Sidarta conheceu a dúvida sobre o sucesso de seus objetivos ao ser confrontado por um demônio chamado Mara, que simboliza o mundo das aparências, a tentação, comparado ao papel de Satanás no cristianismo, e muitas vezes representado por uma cobra naja. Mara teria oferecido todos os tipos de prazeres e tentações a Sidarta, que, implacavelmente, repeliu Mara. Vencido Mara, Sidarta acordou para a Verdade, a Verdade da origem, da cessação e do caminho que levava ao fim do sofrimento, e se iluminou. Assim, por volta dos quarenta anos, Sidarta se transformou no Buda, o Iluminado.
Logo, atraiu um grupo de seguidores e instituiu uma ordem monástica. A partir de então, passou seus dias ensinando o darma, viajando por toda a parte nordeste do subcontinente indiano. Ele sempre enfatizou que não era um deus e que a capacidade de se tornar um buda pertencia ao ser humano. Faleceu aos oitenta anos de idade, em 483 a. C., em Kushinagar, na Índia.
Os estudiosos se contradizem em relação às afirmações sobre a história e os fatos da vida de Buda. A maioria aceita que ele viveu, ensinou e fundou uma ordem monástica, mas não aceita de forma consistente os detalhes de sua biografia. Segundo o escritor Michael Carrithers, em seu livro O Buda, o esboço de uma vida tem que ser verdadeiro: o nascimento, a maturidade, a renúncia, a busca, o despertar e a libertação, o ensino e a morte.[21]
Ao escrever uma biografia sobre Buda, Karen Armstrong disse: “É obviamente difícil, portanto, escrever uma biografia de Buda, atendendo aos critérios modernos, porque temos muito pouca informação que pode ser considerada ‘histórica’… mas podemos estar razoavelmente confiantes, pois Siddhartta Gautama realmente existiu e os seus discípulos preservam a sua memória, sua vida e seus ensinamentos”.[22]

Conceitos budistas

A vida e o mundo
Carma: lei de causa e efeito
Ver artigo principal: Carma no budismo
Tradicional thangka do budismo tibetano alusivo à “Roda da Vida”, com seus seis reinos.
No budismo, o Carma (do sânscrito कर्म, transl. karmam, e em palikamma, “ação”) é a força de samsara sobre alguém. Boas ações (pálikusala), e/ou ações ruins (páli: akisala) geram “sementes” na mente,[23] que virão a aflorar nesta vida ou em um renascimento subsequente.[24] Com o objetivo de cultivar as ações positivas, o sila é um conceito importante do budismo, geralmente, traduzido como “virtude”, “boa conduta”, “moral” e “preceito”.
O carma, na filosofia budista, refere-se especificamente a essas ações (do corpo, da fala e da mente) que brotam da intenção mental (páli: cetana)[25] e que geram consequências (frutos) e/ou resultados (vipaka). Cada vez que uma pessoa age, há alguma qualidade de intenção em sua mente e essa intenção muitas vezes não é demonstrada pelo seu exterior, mas está em seu interior e determinará os efeitos dela decorrentes.
Monumento budista na área de Horyu-ji, no Japão
No budismo Teravada, não pode haver salvação divina ou perdão de um carma, uma vez que é um processo puramente impessoal que faz parte do Universo. Outras escolas, como a Maaiana, porém, têm opiniões diferentes. Por exemplo, os textos dos sutras (como o Sutra do LótusSutra de Angulimala e Sutra do Nirvana) afirmam que, recitando ou simplesmente ouvindo seus textos, as pessoas podem expurgar grandes carmas negativos. Da mesma forma, outras escolas, Vajrayana por exemplo, incentivam a prática dos mantras como meio de cortar um carma negativo.[26]
Renascimento
Ver artigo principal: Renascimento
Renascimento se refere a um processo pelo qual os seres passam por uma sucessão de vidas como uma das muitas formas possíveis de senciência. Entretanto, o budismo, natural da Índia, rejeita conceitos de “autoestima” permanente ou “mente imutável”, eterna, como é chamada no cristianismo e até mesmo no hinduísmo, pois, no budismo, existe a doutrina do anatta, sobre a inexistência de um “eu” permanente e imutável.
De acordo com o budismo, o renascimento em existências subsequentes deve antes ser entendido como uma continuação dinâmica, um constante processo de mudança – “originação dependente” (sânscrito: pratītya-samutpāda) – determinado pelas leis de causa e efeito (carma), em vez da noção de um ser encarnado ou transmigrado de uma existência para outra.
Cada renascimento ocorre dentro de um dos seis reinos, de acordo com os nossos reinos de desejos, podendo variar de acordo com as escolas[27][28][29]:
  1. Reino dos seres dos infernos: aqueles que vivem em um dos muitos infernos;
  2. Reino dos fantasmas famintos: o reino de seres que padecem de necessidades sem alívio, sofrimento, remorsos, fome, sede, nudez, miséria, sintomas de doenças, entre outros;[29]
  3. Reino animal: um espaço de divisão com os humanos, mas considerado como outra vida;
  4. Reino dos seres humanos: um dos reinos de renascimento, em que é possível atingir o nirvana.
  5. Reino dos semideuses: variavelmente traduzido como “divindades humildes”, titãs e antideuses; não é reconhecido pelas escolas Teravada e Maaiana, que os consideram como devas de nível mais baixo;
  6. Reino divino: comparado ao paraíso.[29]
O renascimento em alguns dos céus mais altos, conhecido como o mundo de Śuddhāvāsa (moradas puras), pode ser alcançado apenas por pessoas com enorme realização espiritual, conhecidos como não regressistas (sânscrito: anāgāmis). Já o renascimento no reino sem forma (sânscrito: arupa-dhatu) pode ser alcançando apenas por aqueles que podem meditar sobre o arupajhanas, o maior objeto de meditação.
De acordo com o budismo praticado no leste asiático e o budismo tibetano, há um estado intermediário (o bardo) entre uma vida e a próxima. A posição Teravada ortodoxa rejeita esse conceito, no entanto existem passagens no Samyutta Nikaya do Cânone Páli (coleção de textos em que a tradição Teravada é baseada) que parecem dar apoio à ideia de que o Buda ensinou que existe um estado intermediário entre esta vida e a próxima.
O ciclo de samsara
Ver artigo principal: Samsara
Samsara é o ciclo das existências nas quais reinam o sofrimento e a frustração engendrados pela ignorância e pelos conflitos emocionais que dela resultam.[30] O samsara compreende os três mundos superiores (deva, espiritual e seres humanos) e os três inferiores (seres ignorantes, inferiores e animais), julgados não por um valor, mas em função da intensidade de sofrimento.[31]
Os budistas acreditam, em sua maioria, no samsara. Este, por sua vez, é regido pelas leis do carma: a boa conduta produzirá bom carma e a má alma produzirá carma maléfico. Assim como os hindus, os budistas interpretam o samsara não esclarecido como um estado de sofrimento. Só nos libertaremos do samsara se atingirmos o estado total de aceitação, visto que nós sofremos por desejar coisas passageiras, e alcançarmos o nirvana ou a salvação.[32]
Sofrimento: causas e soluções
As Quatro Nobres Verdades
Ver artigo principal: Quatro Nobres Verdades
De acordo com o Cânone Páli, As Quatro Nobres Verdades foram os primeiros ensinamentos deixados pelo Buda depois de atingir o nirvana.[33] Algumas vezes, são consideradas como a essência dos ensinamentos do Buda e são apresentadas na forma de um diagnóstico médico[34]:
  1. a vida como a conhecemos é finalmente levada ao sofrimento e/ou mal-estar (dukkha), de uma forma ou outra;
  2. o sofrimento é causado pelo desejo (trishna). Isso é, muitas vezes, expressado como um engano agarrado a um certo sentimento de existência, a individualidade, ou para coisas ou fenômenos que consideramos causadores da felicidade e infelicidade. O desejo também tem seu aspecto negativo;
  3. o sofrimento acaba quando termina o desejo. Isso é conseguido através da eliminação da ilusão (maya). Assim, alcançamos o estado de libertação do iluminado (bodhi);
  4. esse estado é conquistado através dos caminhos ensinados pelo Buda.
Esse método é descrito por alguns acadêmicos ocidentais e ensinado como uma introdução ao budismo por alguns professores contemporâneos do Maaiana, como por exemplo o 14º Dalai Lama,[35] Tenzin Gyatso.
De acordo com outras interpretações de mestres budistas e eruditos, e recentemente reconhecidas por alguns estudiosos ocidentais não budistas, as “verdades” não representam meras declarações e/ou indicações, entretanto estas podem ser agrupadas em dois grupos:[36]
  1. o sofrimento e as causas do sofrimento;
  2. a cessação do sofrimento e os caminhos para a libertação.
Assim, a Enciclopédia Macmillan de Budismo simplifica As Quatro Nobres Verdades, deixando-as da seguinte maneira:
  1. “A Verdade Nobre Que Está Sofrendo”;
  2. “A Verdade Nobre Que É O Surgimento do Sofrimento”;
  3. “A Verdade Nobre Que É O Fim do Sofrimento”;
  4. “A Verdade Nobre Que Produz o Caminho para o Fim do Sofrimento”.
A compreensão tradicional do teravada sobre As Quatro Nobres Verdades é que estas são um ensino avançado para aqueles que estão “prontos”.[37] A posição maaiana é que eles são ensinamentos prejudiciais para as pessoas que ainda não estão prontas para ensinar.[25]No Extremo Oriente, os ensinamentos são pouco conhecidos.[38]
O Nobre Caminho Óctuplo
Ver artigo principal: Nobre Caminho Óctuplo
Dharmachakra representando o Nobre Caminho Óctuplo.
Nobre Caminho Óctuplo – A Quarta Nobre Verdade do Buda – é o caminho para a o fim do sofrimento (dukkha). Tem oito seções, cada uma começando com a palavra samyak (que em sânscrito significa “corretamente” e “devidamente”), e são apresentadas em três grupos:
  • prajna: é a sabedoria que purifica a mente, permitindo-lhe atingir uma visão espiritual da natureza de todas as coisas. Engloba:
  1. dṛṣṭi (ditthi): ver a realidade como ela é, não apenas como parece ser;
  2. saṃkalpa (sankappa): a intenção de renúncia, de liberdade e inocuidade.
  1. vāc vāc (vāca): falando de uma maneira verdadeira e não ofensiva;
  2. karman (kammanta): agir de uma maneira não prejudicial;
  3. ājīvana (ājīva): o meio de vida deve seguir os preceitos citados anteriormente.[39]
  • samadhi: é a disciplina mental necessária para desenvolver o domínio sobre a própria mente. Isso é feito através de práticas. Engloba:
  1. vyāyāma vyāyāma (vāyāma): fazer um esforço para melhorar;
  2. smṛti (sati): ver as coisas como elas estão com a consciência clara da realidade presente dentro de si mesmo, sem desejo ou aversão;
  3. samādhi (samādhi): meditar ou concentrar-se de maneira correta.
A prática do Caminho Óctuplo é compreendida de duas maneiras: desenvolvimento simultâneo dos oito itens paralelamente, ou como uma série progressiva pela qual o praticante se move, ao conquistar um estágio. Contudo, os quatro nikāyas principais e o Caminho Óctuplo, geralmente, não são ensinados para leigos e são pouco conhecidos no Extremo Oriente.[38]
Os oito itens do caminho normalmente são apresentados em três divisões (ou treinamentos elevados), como mostrado abaixo:
Divisão
Item
Sânscrito, Pali
Descrição
Sabedoria
(Sânscrito: prajna,
Pāli: paññā)
1. Visão correta
samyag dṛṣṭi,
sammā ditthi

Enxergar a realidade como ela é, não como ela parece ser
2. Intenção correta
samyag saṃkalpa,
sammā sankappa

Intenção de renúncia, libertação e inofensividade
Conduta Ética
(Sânscrito: sila,
Pāli: sīla)
3. Fala correta
samyag vāc,
sammā vāca

Falar de forma verdadeira e não agressiva
4. Ação correta
samyag karman,
sammā kammanta

Agir de forma não agressiva
5. Viver corretamente
samyag ājīvana,
sammā ājīva

Viver de forma não agressiva
Concentração
(Sânscrito e Pāli: samadhi)
6. Esforço correto
samyag vyāyāma,
sammā vāyāma

Se esforçar para melhorar
7. Atenção correta
samyag smṛti,
sammā sati

Estar atento para enxergar as coisas com a consciência clara;
estar consciente da realidade presente dentro de si mesmo, sem qualquer desejo ou aversão
8. Concentração correta
samyag samādhi,
sammā samādhi

Correta meditação e concentração, como os primeiros quatro jhanas
Caminho do Meio
Ver artigo principal: Caminho do Meio
Um importante princípio orientador da prática budista é o Caminho do Meio, que se diz ter sido descoberto pelo Buda, antes de sua iluminação. O Caminho do Meio tem várias definições:
  1. a prática de não extremismo: um caminho de moderação e distância entre a autoindulgência e a morte;
  2. o meio-termo entre determinadas visões metafísicas;
  3. uma explicação do nirvana (perfeita iluminação), um estado no qual fica claro que todas as dualidades aparentes no mundo são ilusórias;
  4. outros termos para o sunyata, a última natureza de todos os fenômenos (na escola Maaiana).
A forma como as coisas são
Debate entre monges do Mosteiro de Sera, no Tibete
Estudiosos budistas têm produzido uma quantidade notável de teorias intelectuais, filosóficas e conceitos de visão do mundo (por exemplo: filosofia budistaabhidharma e a realidade no budismo). Algumas escolas do budismo desencorajam estudos doutrinários, algumas os consideram como essenciais, pelo menos para algumas pessoas em algumas fases do budismo.
Nos primeiros ensinamentos budistas, de certa forma, compartilhado por todas as escolas existentes, o conceito de libertação (nirvana) está intimamente ligado com a correta compreensão de como a mente lida com o estresse. Ao termos conhecimento sobre o apego, um sentimento de desapego é gerado e se é liberado do sofrimento (dukkha) e do ciclo de renascimento (samsara). Para esse efeito, o Buda recomendou ver as coisas através das três marcas da existência.
Impermanência, sofrimento e não eu
Ver artigo principal: Três Marcas da Existência
Anicca (sânscrito anitya) é um termo que exprime o conceito budista de que todas as coisas são compostas ou fenômenos condicionados, sendo estes, inconstantes, instáveis e impermanentes. Tudo o que podemos experimentar através dos nossos sentidos é composto de peças e sua existência depende de condições externas. Tudo está em fluxo constante e, assim, as condições e coisas em si estão mudando constantemente. As coisas estão vindo constantemente a ser e deixar de ser. Como nada dura, não há nenhuma natureza inerente ou fixada em qualquer objeto ou experiência.
Segundo a doutrina da impermanência, a vida humana incorpora esse fluxo no processo de envelhecimento, no ciclo de renascimento e em qualquer existência de perda. A doutrina afirma ainda que, pelo fato de as coisas serem impermanentes, o apego a elas é inútil e leva ao sofrimento (dukkha).
Dukkha (sânscrito duhkha) é um dos conceitos centrais do budismo. A palavra pode ser traduzida de diversas maneiras, incluindo sofrimentodor, insatisfação, tristeza, angústia, ansiedade, desconforto, estresse, infelicidade e frustração, por exemplo. Apesar disso, dukkha é traduzido, muitas vezes, como “sofrimento”, o seu significado filosófico é mais semelhante a “inquietação”, como na condição de ser perturbado.[40] Devido a isso, algumas literaturas preferem não traduzir o verbete, como é o caso do inglês, com o objetivo de englobar em uma palavra todos os significados.[41][42][43]
Anatta (sânscrito anatman) refere-se à noção da inexistência de um “eu”. Após uma análise cuidadosa, verifica-se que nenhum fenômeno é realmente “eu” ou “meu”, estes conceitos são, na realidade, construídos pela mente. Nos nikayas, o anatta não é entendido como uma afirmação metafísica, mas como uma aproximação para ganhar a libertação do sofrimento. O Buda rejeitou ambos os conceitos, afirmando que eles nos ligam ao sofrimento.
Originação dependente
Ver artigo principal: Originação Dependente
A doutrina do pratītyasamutpāda é uma parte importante da metafísica budista. Ela afirma que os fenômenos surgem juntos em uma teia interdependente de causa e efeito. É variavelmente traduzida como “orientação dependente”, “gênese condicionada”, “codependente decorrentes” ou “emergência”.
O conceito mais conhecido e aplicado do pratītyasamutpāda é o regime dos Doze Nidānas (do páli: nidāna, que significa “provocar”, “fundação”, “fonte” e “origem”), que explicam a continuação do ciclo de sofrimento e renascimento em detalhe. Os Doze Nidānas descrevem uma relação entre as características subsequentes, cada uma dando origem ao nível seguinte:
  1. Avidyā: ignorância (especificamente espiritual)[25][44]
  2. Saṃskāras: formações;[44]
  3. Vijñāna: consciência;[25][44]
  4. Nāmarūpa: nome e forma (refere-se à mente e ao corpo);[25][44]
  5. Ṣaḍāyatana: suas bases dos sentidos (olhos, nariz, ouvidos, língua, corpo e mente);[44]
  6. Sparśa: contato (traduzido, também, como “impressão” ou “estimulo” por um objeto);[44]
  7. Vedanā: sensação, traduzida como algo “desagradável”, “agradável” ou neutro;[44]
  8. Tṛṣṇā: sede, mas, no budismo, refere-se ao desejo;[44]
  9. Upādāna: apego ou apreensão;[44]
  10. Bhava: ser (existência) ou se tornar (no Teravada possui dois significados: o carma, que produz uma nova existência, e a existência em si);[25][44]
  11. Jāti: nascimento (entendido como ponto de partida);[25][44]
  12. Jarāmaraṇa: velhice e morte, também traduzida, através do śokaparidevaduḥkhadaurmanasyopāyāsa, como tristeza, lamentação, dor e miséria.[44]
Sunyata
Ver artigo principal: Sunyata
O budismo Maaiana foi fundado baseado nas teorias de Nagarjuna, provavelmente o estudioso mais influente dentro das tradições da escola budista. A principal contribuição do filósofo budista foi a exposição sistemática do conceito de sunyata, ou “vazio”, comprovada amplamente nos sutras, como Prajnaparamita, importantíssimos na época.
O conceito de “vazio” reúne as outras principais doutrinas budistas, particularmente a anatta e a pratītyasamutpāda (orientação dependente), para refutar a metafísica da Sarvastivada e Sautrāntika (não extintas da escola Maaiana). Para Nagarjuna, não são apenas os seres sencientes que estão vazios de atman; todos os fenômenos (dharmas) são, sem qualquer svabhava (literalmente “própria natureza” ou “autonatureza”) e, portanto, sem qualquer essência fundamental, pois eles são vazios de ser independentes, assim, as teorias heterodoxas de Svabhava, circuladas na época, foram desmentidas com base nas demais doutrinas budistas.
Os pensamentos de Nagarjuna são conhecidos como Madhyamaka. Alguns dos escritos atribuídos a Nagarjuna fazem referências explícitas aos textos de Maaiana, mas sua filosofia foi argumentada dentro dos “parênteses” estabelecidos pela ágama. Ele pode ter chegado à sua posição a partir de um desejo de alcançar uma exegese coerente da doutrina do Buda, tal como o Canon. Aos olhos de Nagarjuna, o Buda não era apenas um precursor, mas o próprio fundador do sistema Madhyamaka.[45]
Os ensinamentos sarvastivada, que foram criticados por Nagarjuna, foram reescritos por estudiosos como Vasubandhu e Asanga e foram, posteriormente, adaptados para a prática do Yoga (sânscrito: Yogacara). Enquanto a escola Madhyamaka declarou que afirmar a existência ou a inexistência de qualquer coisa, em última análise, era inadequado, contudo, alguns expoentes da Yogacara afirmaram que a mente, e só a mente, é real (doutrina conhecida como consciência). Entretanto, nem todos dentro do Yogacara consideram essa afirmação; Vasubandhu e Asanga, em particular, são um exemplo.[46]
Além do vazio, a escola Maaiana, muitas vezes, dá ênfase nas noções de discernimento espiritual pleno (prajnaparamita) e na natureza búdica (tathagatagarbha, que significa “embrião budista”). De acordo com o sutras de tathagatagarbha, o Buda revelou a realidade da imortal natureza budista, que se diz ser inerente a todos os seres vivos e permite que todos eles, eventualmente, atinjam a iluminação completa, ou seja, tornando-se Budas.
Especulações contra a existência direta na epistemologia budista
A distinção entre o budismo e outras escolas filosóficas indianas é uma questão da justificação da epistemologia. Apesar de todas as escolas de lógica indiana reconhecerem vários conjuntos das justificativas válidas para o conhecimento (pramana), o budismo, por sua vez, reconhece um conjunto menor do que os outros. Todos aceitam a percepção e a inferência, por exemplo, mas, algumas escolas budistas não.
De acordo com as escrituras, durante a sua vida, o Buda permaneceu em silêncio quando questionado sobre várias questões metafísicas, conhecidas como “Questões avyākata“. São perguntas como: se o universo é eterno ou não (ou se é finito ou infinito), se há unidade ou separação do corpo e do atman, a inexistência completa de uma pessoa depois do nirvana, entre outros. Uma explicação para esse silêncio é que tais questões atrapalham a atividade prática para o bodhi[nota 1] e trazem o perigo de substituir a experiência de libertação através da compreensão conceitual da doutrina ou pela fé religiosa.

Escolas

Este artigo é parte da série sobre o
Dharmachakra tailandês
Países[Esconder]
História[Esconder]
Doutrina[Esconder]
Ver artigo principal: Budismo inicial
sangha original, após a realização de um concílio no século IV a.C., dividiu-se em duas escolas de pensamento: Mahasanghika e Sthaviravada. Desses dois troncos, a única escola remanescente é a Theravada.[47] Os três veículos principais são: Escolas Antigas, Escolas Mahayana e Escolas Vajrayana.[48]

Nirvana

nirvana é:
  1. É a meta do budismo.
  2. É o apagar do fogo das paixões e a extinção do ego.
  3. É não necessitar mais reencarnar.
  4. É o que todo budista procura por toda vida, a paz absoluta.
  5. É o que faz do homem comum um Buda.
  6. É a iluminação.
  7. É a extrema paz.

Origens

A estátua do Tian Tan Buda, no monastério Po Lin, na ilha de Lantau, em Hong Kong.
Historicamente, as raízes do budismo se encontram no pensamento religioso da Índia antiga durante a segunda metade do primeiro milênio antes de Cristo. Esse foi um período de turbulência social e religiosa, já que havia um significante descontentamento com os sacrifícios e rituais do bramanismo védico. Ele foi desafiado por vários novos ensinamentos e grupos ascéticos, religiosos e filosóficos que romperam com a tradição brâmane e rejeitaram a autoridade dos Vedas e dos brâmanes.
O budismo formou-se no nordeste da Índia, entre o século V e IV a.C.. Este período corresponde a uma fase de alterações sociais, políticas e econômicas nessa região do mundo. A antiga religiosidade bramânica, centrada no sacrifício de animais, era questionada por vários grupos religiosos, que geralmente orbitavam em torno de um mestre.
Um desses mestres religiosos, como visto acima com mais detalhes, foi Sidarta Gautama, o Buda, cuja vida a maioria dos acadêmicos ocidentais e indianos situa entre 563-483 a.C., embora os acadêmicos japoneses considerem mais provável as datas 448 a 368 a.C. Sidarta nasceu na povoação de Kapilavastu, que se julga ser a aldeia indiana de Piprahwa, situada perto da fronteira indo-nepalesa. Pertencia à casta guerreira (ksatriya).
Várias lendas posteriores afirmam que Sidarta viveu no luxo, tendo o seu pai se esforçado por evitar que o seu filho entrasse em contato com os aspectos desagradáveis da vida. Por volta dos 29 anos, o jovem Sidarta decidiu abandonar a sua vida, renunciando a todos os bens materiais e adotando a vida de um renunciante. Praticou o ioga (numa forma que não é a mesma que é hoje seguida nos países ocidentais) e seguiu práticas ascéticas extremas, mas acabou por abandoná-las, vendo que não conseguia obter nada delas. Segundo a tradição, ao fim de uma meditação sentado debaixo de uma figueira, descobriu a solução para a libertação do ciclo das existências e das mortes que o atormentava.
Pouco depois, decidiu retomar a sua vida errante. Chegou a um bosque perto de Benares, onde pronunciou um discurso religioso diante de cinco jovens, que convencidos pelos seus ensinamentos, se tornaram os seus primeiros discípulos e com quem formou a primeira comunidade monástica (sangha). O Buda dedicou, então, o resto da sua vida (talvez trinta ou cinquenta anos) a pregar a sua doutrina através de um método oral, não tendo deixado quaisquer escritos.
Sidarta Gautama, sem dúvida familiar com os pensamentos de sua era e região, ensinou o Caminho do Meio entre a indulgência sensual e o severo ascetismo encontrado no movimento Śramaṇa, comum na região. Como a principal figura do Budismo, os acontecimentos de sua vida, seus discursos e as regras monásticas que ele criou foram compilados após a sua morte e memorizados por seus seguidores. Várias coleções de ensinamentos atribuídas a ele foram preservadas e transmitidas via tradição oral e primeiramente fixadas por escrito cerca de 400 anos depois.

Cosmologia

Ver artigo principal: Cosmologia budista
cosmologia budista considera que o Universo é composto por vários sistemas mundiais, sendo que cada um desses possui um ciclo de nascimento, desenvolvimento e declínio que dura bilhões de anos. Num sistema mundial existem seis reinos, que por sua vez incluem vários níveis, num total de trinta e um.
O reino dos infernos situa-se na parte inferior. A concepção do inferno budista é diferente da concepção cristã, na medida em que o inferno não é um lugar de permanência eterna nem o renascimento nesse local é o resultado de um castigo divino; os seres que habitam no inferno libertam-se dele assim que o mau karma que os conduziu ali se esgota. Por outro lado, o budismo considera que existem não apenas infernos quentes, mas também infernos frios.
Acima do reino dos infernos pelo lado esquerdo, encontra-se o reino animal, o único dos vários reinos perceptível aos humanos e onde vivem as várias espécies. Acima do reino dos infernos pelo lado direito, encontra-se o mundo dos espíritos ávidos ou fantasmas (preta). Os seres que nele vivem sentem constantemente sede ou fome, sem nunca terem essas necessidades saciadas. A arte budista representa os habitantes desse reino como tendo um estômago do tamanho de uma montanha e uma boca minúscula.
O reino seguinte é o dos Asura (termo traduzido como “Titãs” ou dos antideuses). Os seus habitantes ali nasceram em resultado de acções positivas realizadas com um sentimento de inveja e competição e vivem em guerra constante com os deuses.
O quinto reino é o dos seres humanos. É considerado como um reino de nascimento desejável, mas ao mesmo tempo difícil. A vida enquanto humano é vista como uma via intermédia nessa cosmologia, sendo caracterizada pela alternância das alegrias e dos sofrimentos, o que, de acordo com a perspectiva budista, favorece a tomada de consciência sobre a condição samsárica.
O último reino é o dos deuses (deva) e é composto por vários níveis ou residências. Nos níveis mais próximos do reino humano, vivem seres que, devido à prática de boas acções, levam uma vida harmoniosa. Os níveis situados entre o vigésimo terceiro e o vigésimo sétimo são denominados como “Residências Puras”, sendo habitadas por seres que se encontram perto de atingir a iluminação e não voltarão a renascer como humanos.

Escrituras

Edição do Cânone Páli
Buda não deixou nada escrito. De acordo com a tradição budista, ainda no próprio ano em que o Buda faleceu, teria sido realizado um concílio na cidade de Rajaghra, onde discípulos do Buda recitaram os ensinamentos perante uma assembleia de monges que os transmitiram de forma oral aos seus discípulos. Porém, a historicidade desse concílio é alvo de debate: para alguns, esse relato não passa de uma forma de legitimação posterior da autenticidade das escrituras.
Por volta do século I, os ensinamentos do Buda começaram a ser escritos. Um dos primeiros lugares onde se escreveram esses ensinamentos foi no Sri Lanka, onde se constituiu o denominado Cânone Páli. O Cânone Pali é considerado pela tradição Theravada como contendo os textos que se aproximam mais dos ensinamentos do Buda. Não existem, contudo, no budismo um livro sagrado como a Bíblia ou o Alcorão, que seja igual para todos os crentes; para além do Cânone Pali, existem outros cânones budistas, como o chinês e o tibetano.
O cânone budista divide-se em três grupos de textos, denominado “Triplo Cesto de Flores” (tipitaka em pali e tripitaka em sânscrito):
  1. Sutra Pitaka: agrupa os discursos do Buda tais como teriam sido recitados por Anandano primeiro concílio. Divide-se por sua vez em vários subgrupos;
  2. Vinaya Pitaka: reúne o conjunto de regras que os monges budistas devem seguir e cuja transgressão é alvo de uma penitência. Contém textos que mostram como surgiu determinada regra monástica e fórmulas rituais usadas, por exemplo, na ordenação. Estas regras teriam sido relatadas no primeiro concílio por Upali;
  3. Abhidharma Pitaka: trata do aspecto filosófico e psicológico contido nos ensinamentos do Buda, incluindo listas de termos técnicos.
Quando se verificou a ascensão do budismo Mahayana, essa tradição alegou que o Buda ensinou outras doutrinas que permaneceram ocultas até que o mundo estivesse pronto para recebê-las; dessa forma a tradição Mahayana inclui outros textos que não se encontram no Theravada.

Difusão do budismo

Índia
Porcentagens de budistas por país.
A partir do seu local de nascimento no nordeste indiano, o budismo espalhou-se para outras partes do norte e para o centro da Índia. Durante o reinado do imperador máuria Asoka, que se converteu ao budismo e que governou uma área semelhante à da Índia contemporânea (com excepção do sul), essa religião consolidou-se. Após ter conquistado a região de Calinga pela força, Asoka decidiu que a partir de então governaria com base nos preceitos budistas. O imperador ordenou a construção de hospedarias para os viajantes e que fosse proporcionado tratamento médico não só aos humanos, mas também aos animais. O rei aboliu também a tortura e provavelmente a pena de morte. A caça, desporto tradicional dos reis, foi substituída pela peregrinação a locais budistas. Apesar de ter favorecido o budismo, Asoka revelou-se também tolerante para com o hinduísmo e o jainismo.
Asoka pretendeu também divulgar o budismo pelo mundo, como revelam os seus éditos. Segundo estes, foram enviados emissários com destino à SíriaEgito e Macedónia (embora não se saiba se chegaram aos seus destinos) e para o oriente, para um terra de nome Suvarnabhumi (Terra do Ouro) que não se conseguiu identificar com segurança.
Império Máuria chegou ao fim em finais do século II a.C.. A Índia foi então dominada pelas dinastia locais dos Sunga (185–173 a.C.) e dos Kanva (c.73–25 a.C.), que perseguiram o budismo, embora este conseguisse prevalecer. Perto do início da era actual, o noroeste da Índia foi invadido pelos citas, que formariam o Império Kushana. Um dos mais importantes reis desta dinastia, Kanishka (c. 127-147), foi um grande proselitista do budismo.
Durante a era da dinastia Gupta (320540), os monarcas favorecem o budismo, mas também o hinduísmo. Em meados do século VI, os Hunos Brancos, oriundos da Ásia Central, invadem o noroeste da Índia, provocando a destruição de inúmeros mosteiros budistas. A partir de 750, a dinastia Pala governou no nordeste da Índia até ao século XII, apoiando os grandes centros monásticos budistas, entre os quais o de Nalanda. Contudo, a partir do século XII, o budismo entra num declínio definitivo devido a vários factores. Entre estes, encontravam-se o revivalismo hindu, que se manifestou com figuras como Adi Shankara e pelas invasões dos muçulmanos dos séculos XII e XIII.
Embora o budismo tenha passado por uma verdadeira renovação a partir de 1959, ano em que o Dalai Lama escolhe o exílio, ele parece quase ausente da Índia, a ponto de termos, muitas vezes, de seguir turistas estrangeiros para localizar os lugares santos de antigamente. Nesse percurso, ao longo dos séculos, o budismo suscitou desvios, heresiasseitas.[49]
Sri Lanka e Sudeste da Ásia
Wat Mahathat, em Sukhothai, na Tailândia.
A tradição cingalesa atribui a introdução do budismo no Sri Lanka ao monge Mahinda, filho de Asoka, que teria chegado à ilha em meados do século III a.C., acompanhado por outros missionários. Esse grupo teria convertido ao budismo o rei Devanampiya Tissa e grande parte da nobreza local. O rei ordenou a construção do Mahavihara (“Grande Mosteiro” em pali) na então capital do Sri Lanka, Anuradhapura. O Mahavihara foi o grande centro do budismo Theravada na ilha nos séculos seguintes.
Foi no Sri Lanka que, por volta do ano 80 a.C., se redigiu o Cânone Pali, a colectânea mais antiga de textos que reflectem os ensinamentos do Buda. No século V, chegou à ilha o monge Budagosa, responsável por coligir e editar os primeiros comentários feitos ao Cânone, traduzindo-os para o pali.
Na Tailândia, o budismo lançou raízes no século VII nos reinos de Dvaravati (no sul, na região de Banguecoque) e de Haripunjaya (no norte, na região de Lamphun), ambos reinos da etnia Mon. No século XII, o povo Tai, que chegou ao território vindo do sudoeste da China, adoptou o budismo Theravada como a sua religião.
A presença do budismo na península Malaia está atestada desde o século IV, assim como nas ilhas de Java e Sumatra. Nessas regiões, verificou-se um sincretismo entre o budismo Mahayana e o xivaísmo, que está ainda hoje presente em locais como a ilha de Bali. Entre o século VII e o IX, a dinastia budista dos Xailendra governou partes da Indonésia e a península Malaia, tendo sido responsável pela construção de Borobudur, uma enorme estupa que é o maior monumento existente no hemisfério sul. O islamismo chegou à Indonésia no século XIV, trazido pelos mercadores, acabando por substituir o budismo como religião dominante. Atualmente o budismo é principalmente praticado pela comunidade chinesa da região.
China
Ver artigo principal: Budismo na China
Pintura nas grutas de Bezeklik, no oeste da China, retratando monges budistas.
A tradição atribui a introdução do budismo na China ao imperador Ming de Han (25-220 d.C.), o segundo imperador da dinastia Han do leste. Este imperador teve um sonho no qual viu um ser voador dourado, interpretado por seus conselheiros como uma visão do Buda. O imperador enviou emissários a outros países, a oeste da China, para obter informações sobre a doutrina de Buda.
Escrituras budistas teriam sido trazidas à China, nas costas de cavalos brancos, por Dharmarakṣa e Kaśyapa Mātaṅga, dois grandes monges indianos. Então o imperador ordenou a construção do primeiro templo budista da China, o monastério Baima, na atual cidade de Luoyang, na província de Henan. Os monges levaram, para a China, 42 sutras, contendo 600 000 palavras em sânscrito.
Independentemente da tradição, o budismo só se espalhou na China nos séculos V e VI com o apoio das dinastias Wei e Tang. Durante este período, estabeleceram-se, na China, escolas budistas de origem indiana ao mesmo tempo em que se desenvolveram escolas próprias chinesas.
Coreia e Japão
Ver artigo principal: Budismo no Japão
Kanji japonês para “Zen”.
O budismo entrou na Coreia no século IV. Nesta altura, a Coreia não era um território unificado, encontrando-se dividida em três reinos rivais: o reino de Koguryo no norte, o reino de Paekche no sudoeste e o reino de Silla no sudeste. Estes três reinos reconheceriam o budismo como uma religião oficial, tendo sido o primeiro a fazê-lo Paekche (384), seguindo-se o Koguryo (392) e Silla (528). Em 668, o reino de Silla unificou a Coreia sob o seu poder e o budismo conheceu uma era de desenvolvimento. Foi nesse período que viveu o monge Wonhyo Daisa (617-686), que tentou promover um budismo do qual fizessem parte elementos de todas as seitas. No século VIII, foi difundido na Coreia o budismo da escola chinesa Chan[desambiguação necessária], denominado son (ou seon)em coreano e que se tornou a escola dominante. O budismo continuou a florescer durante a era Koryo (935-1392), até que a dinastia Li (1392-1910) favoreceu o confucionismo.
A partir da Coreia e da China, o budismo foi introduzido no Japão em meados do século VI. Em 593, o príncipe Shotoku declarou-o como religião do Estado, mas o budismo foi até à Idade Média um movimento ligado à corte e à aristocracia sem larga adesão popular (os missionários coreanos tinham apresentado à corte japonesa o budismo como elemento de protecção nacional). Durante a era Nara (710-794)-Héian (794-1185), várias seitas de expressão chinesa começaram a implantar-se no Japão. São deste último período a escola Shingon e Tendai (Tien Tai). Durante a era Kamakura (1185-1333), o budismo populariza-se finalmente com as escolas Terra PuraNichiren e Zen (Chan) nas suas principais vertentes chinesas das escolas Rinzai (Linji) e Soto (Caodong).
Tibete
No Tibete, o budismo propagou-se em dois momentos diferentes. O rei Srong-brtsan-sgam-po (Songtsen Gampo, c.627-c.650), influenciado pelas suas duas esposas budistas, decidiu mandar chamar ao Tibete monges indianos para ali difundirem a religião. Durante o reinado de Khri-srong-lde-btsan (Trisong Deutsen), construiu-se o primeiro mosteiro budista tibetano e em 747 chegou ao território o notável iogue indiano Padmasambhava, que organizou o budismo tibetano e fundou a escola hoje conhecida como Nyingma (ou “escola da tradição antiga”, em relação às posteriores escolas estabelecidas por outros professores). Contudo, uma reação hostil da religião nativa, o Bön, levaria ao declínio do budismo nos dois séculos seguintes.
O budismo seria reintroduzido no Tibete a partir do século XI, com a ajuda do monge indiano Atisa, que chegou ao território em 1042. Com o passar do tempo, formaram-se quatro escolas: Sakyapa, Kagyupa, Nyingmapa e Gelugpa. Em 1578, membros desta última escola converteram o mongol Altan Khan à sua doutrina. Alta Khan criou o título de Dalai Lama, que concedeu ao líder da escola Gelugpa. Em 1641, com ajuda dos mongóis, o quinto Dalai Lama derrotou o último príncipe tibetano e tornou-se o líder temporal do Tibete. Os seguintes dalai lamas foram na prática os governantes do Tibete até à invasão chinesa. O quinto dalai lama criou o cargo de Panchen-lama, que reside no mosteiro de T-shi-lhum-po e que foi visto como uma encarnação do Amitabha.

Notas

  1. Majjhima Nikaya (Thanissaro, 1997). Para uma leitura mais profunda sobre o contexto, veja Thanissaro (2004). Em inglês.

Referências

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    Ver também

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