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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

“A gente se sentia explorado”, diz cubano que abandonou Mais Médicos

O médico cubano Adrian Estrada Barber deu uma entrevista à Folha de São Paulo em que revela o verdadeiro sentimento de seus compatriotas que trabalham no programa Mais Médicos: todos se sentiam explorados.

Adrian contou que ficou pouco menos de 3 anos trabalhando pelo programa, onde recebia pouco menos de R$ 3 mil por mês enquanto todo o resto do salário ia direto para Cuba. Vivendo com a esposa no país, o médico disse que mal conseguia pagar as contas. Por isso, foi atrás de revalidar seu diploma no Brasil, abandonou o Mais Médicos e passou a clinicar por conta própria.

O abandono do Mais Médicos custou sua liberdade: foi classificado como “desertor” e está proibido de entrar em Cuba por 8 anos.

“Explorado, acho que todo cubano se sente. Com certeza. A gente saiu de Cuba com o objetivo de economizar uma grana para continuar o estudo por lá, depois. Para a gente, era muito bom esse dinheiro, porque era muito mais do que conseguíamos ganhar em Cuba. E também ter outra experiência, sair, olhar a realidade do mundo. Mas quando a gente chega aqui e vê como funciona o mundo, aí, para mim, ficou decidido que não dava mais para voltar.

Eu acho que a maioria dos médicos se sente reprimida pelo sistema de Cuba. A gente não tem liberdade de fazer as coisas. Por exemplo, agora, eu não consigo entrar no meu país. Tive minha liberdade completamente limitada. Aqui no Brasil, ainda foi muito mais tranquilo do que na Venezuela [que também mantém um programa de intercâmbio com médicos de Cuba]. Eu não cheguei a ir para lá, mas tenho colegas que foram. Tinham que dar uma preliminar do que iriam fazer durante o dia, não podiam sair depois das 18h. Foi uma perseguição terrível.”

Adrian disse concordar com as exigências feitas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro. Disse que os cubanos têm capacidade para fazer as provas do revalida.

O cubano também relatou que os municípios se aproveitaram do Mais Médicos. As prefeituras demitiam médicos brasileiros para contraram cubanos no lugar, já que era pagos pelo governo federal, e não municipal.

Em outro trecho, o repórter da Folha pergunta se Adrian concorda que o Mais Médicos é um programa com trabalho análogo à escravidão:

“Concordo plenamente. E não é só aqui no Brasil. Acontece no meu país também. Em Cuba, um funcionário da rede de hotéis Meliá recebe US$2.000 por mês. Mas isso não chega na mão dele, não. Vai para o governo, que converte isso em pesos cubanos, e manda para o funcionário o equivalente a US$ 80 por mês. E fica com o resto. É um trabalho escravo. Está roubando dinheiro do funcionário.”

Adrian conta ainda que apenas com seu salário no Brasil consegue ajudar a família dele, a do pai dele e a de seu irmão. Seu pai ganha apenas cerca de R$ 15 por mês em Cuba.

Perguntado sobre o futuro dos cubanos com a saída da ditadura do Mais Médicos, ele disse acreditar que muitos queiram ficar no Brasil e tenham capacidade de fazer o Revalida.

Foto de Junior Pinheriro, Folhapress



MBL News

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