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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Presos lançam manifesto defendendo limites para a violência extrema no RS

Grupo de apenados critica atos como esquartejamentos de vítimas ou mortes de crianças e mulheres

Por: Jocimar Farina e Juliano Rodrigues

Insatisfeitos com o efeito do excesso de violência que resulta em possível diminuição na venda de drogas, principalmente na zona sul de Porto Alegre, traficantes de três presídios lançaram nesta semana manifesto criando nova facção no Estado. O documento, assinado por três apenados do Presídio Central, da Penitenciária Modulada de Charqueadas e da Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), afirma zelar "pelo bem da sociedade" e pretende estabelecer código de conduta para o grupo.
"Nosso comando tem compromisso primeiramente com o lado certo da vida errada, pois nesta data de hoje está formada uma facção com respeito a todos, que tem como um dos seus objetivos sempre buscar espaço no cumprimento da pena com segurança de todos os seus membros que estão espalhados em várias prisões do Estado", diz a nota.

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O principal objetivo da facção seria obter espaço próprio no Presídio Central, cadeia que hoje divide galerias com presos de diferentes quadrilhas. Além disso, ao definir alguns parâmetros de comportamento e hierarquia para a tomada de decisões, o grupo afirma, em conversas com autoridades, pretender evitar episódios de barbárie, como esquartejamentos, mortes de mulheres, crianças e idosos — casos que têm se tornado rotina na Capital.

"Todos têm o dever de distinguir o certo do errado, por isso estaremos pensando sempre juntos antes de tomar qualquer atitude", alerta o texto.

Os líderes do bando são traficantes veteranos, com mais de 30 anos, que não concordam com atitudes tomadas principalmente por jovens criminosos.

— São criminosos mais velhos. Eles sabem que a violência é ruim para os negócios, porque atrai a polícia, cria ambiente ruim na comunidade e afeta o comércio de entorpecentes. Esse grupo já tem domínio expressivo nas ruas, mas não dentro das cadeias — afirma uma autoridade que conhece o funcionamento das casas prisionais e prefere não ser identificada.

Para o especialista em segurança pública e violência na América Latina, sociólogo Juan Fandino, a atitude do grupo é atípica, porém não chega a surpreender.

— O Comando Vermelho nasceu assim. Os grandes grupos de criminosos têm certa moralidade, regras e normas que são estruturadas e que, embora conflitem com as normas legais, existem. Não há garantia de que o grupo vai permanecer nessa direção, porque os conflitos são brutais e facilmente se perdem esses ângulos. Isso não significa redenção da criminalidade. Eles apenas acham que simplesmente não vale a pena cometer as barbaridades. Os objetivo deles não são cometer barbaridades, mas ganhar dinheiro, prestígio — explica.

Os integrantes da nova facção estão sendo monitorados pela Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) e a direção do Presídio Central admite que já iniciou as conversas para reacomodá-los na cadeia.

 

Zero Hora

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