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domingo, 28 de junho de 2015

Viver e morrer no espaço

Ronaldo Garcia – Boletim Centaurus

Aqui vale uma explicação: até hoje ninguém morreu no espaço. Para ser considerado “espaço”, é necessário estar uma altitude superior a 100 km, valor alcançado pelo Comitê Internacional de Astronáutica, e abaixo disso estaríamos no espaço aéreo territorial de algum país.
O primeiro voo tripulado ocorreu em 12 de abril de 1961, quando o russo Yuri Gagarin abriu os olhos lá de cima, a 300 km de altura, e viu que a Terra era azul. Esse voo fora rápido e simples, apenas uma volta ao redor da Terra em 90 minutos. Foi esse voo que inaugurou a presença humana no espaço e, até o dia 1 de fevereiro de 2004, mais de 400 pessoas já experimentaram a mesma sensação de Yuri Gagarin.
O astronauta é a profissão mais seleta do mundo: um em cada 15.000.000 de pessoas foi ao espaço. Existe uma estatística que diz que um astronauta é muito mais popular que um jogador de futebol (brasileiro) ou de basquete (americano), mais popular do que um estadista ou governante e empata com atores de cinema de Hollywood. Esse talvez seja o principal motivo pela qual as pessoas admiram tanto um astronauta e a tragédia com o Columbia tenha tido a repercussão e a comoção mundial que alcançou.
E como toda nova aventura na qual os equipamentos nunca podem falhar, em que qualquer erro é veementemente punido, ninguém pode lhe ajudar, não existem possibilidades de resgate, as condições ambientais simplesmente não existem, somente poucos tem a oportunidade e a coragem para ir. Os acidentes então, se transformam em tragédias abalam o mundo todo.
O primeiro acidente espacial ocorreu numa plataforma de lançamento no Cabo Kennedy, EUA, no dia 27 de janeiro de 1967. Os astronautas Gus Grissom, Edward White e Roger Chaffee morreram num incêndio dentro do módulo de comando da Apollo 1 durante uma sequência de teste de voo. O objetivo desse ensaio era realizar todos os passas de uma contagem regressiva completa, sem o lançamento e às 18h30min daquela sexta-feira, o astronauta Chaffee disse sentir “cheiro de fogo”. Dois segundos depois, o astronauta White sentenciou: “Fogo no cockpit”. O incêndio tomou o módulo em questão de segundos por causa do ambiente extremamente rico em oxigênio.
A perda nas comunicações com os astronautas ocorreu 17 segundos depois do início do fogo, seguido pela perda de toda a telemetria, que são os dados enviados dos computadores da nave para os computadores na sala de controle da emissão. Devido às várias complexidades técnicas, depois de 5 minutos que o fogo havia começado foi que os técnicos, do lado de fora, conseguiram abrir a porta da nave Apollo, mas os 3 astronautas já estavam mortos, provavelmente 30 segundos depois que incêndio começou.
Depois a vez da União Soviética. No mesmo ano do acidente da Apollo 1, o cosmonauta Vladimir Komarov, realizando o primeiro teste tripulado da nave Soyuz 1 em órbita da Terra, contou com vários problemas durante a missão (um painel solar falhou e problemas com o controle de reação – que faz com que a nave realize manobras no espaço), os quais obrigaram o controle da missão de ordenar a Komarov que abortasse a missão e começasse os procedimentos de descida. Após ter reentrado na atmosfera, o paraquedas principal, que deveria ser aberto a 6,5 km de altura não funcionou, e a cápsula da Soyuz 1 colidiu com o solo. Enquanto a nave fazia a sua descida fatal, os pedidos de ajuda vindos de Komarov podiam ser ouvidos por vários rádio amadores até nos Estados Unidos.
O ano de 1971 trouxe a Salyut 1, a primeira estação espacial construída pela União Soviética e cuja principal missão era realizar experiências científicas. A Salyut 1 estava equipada com telescópios, espectrômetros, eletrofotômetros, entre outros instrumentos. No dia 19 de abril daquele ano a Salyut 1 fora lançada, sem nenhum cosmonauta dentro, e no dia 6 de junho do mesmo ano, a nave Soyuz 11 levando os cosmonautas Georgy Dobrovolsky, Vladislav Volkov e Viktor Patsayev acoplou na estação com a finalidade de torná-la operacional e realizar as primeiras experiências científicas. Para isso, os cosmonautas ficariam 30 dias a bordo da Salyut 1. Um pequeno incêndio e dificuldades nas condições de trabalho fizeram com que os cosmonautas voltassem a Terra 7 dias antes do previsto. No dia 29 de junho de 1971, ao abrir a porta da cápsula, os técnicos encontraram os 3 cosmonautas mortos devido a uma rápida e violenta descompressão da nave a reentrada. Durante a volta, uma válvula que servia para equalizar a pressão dentro da nave, com a pressão do lado de fora, teve um mal funcionamento e abriu, tirando a pressão e o ar em questão de segundos. Os cosmonautas tentaram fechar a válvula, mas não houve tempo suficiente para isso. Os cosmonautas das naves Soyuz, até essa época, não usavam trajes pressurizados na reentrada.
Depois veio a década de 80 e com ela, chegou a nova geração de veículos: os Ônibus Espaciais. O primeiro a voar foi o Columbia, no dia 12 de abril de 1981, exatamente 20 anos depois do voo de Yuri Gagarin.
O céu estava limpo e o Sol brilhava naquela fria manhã de 28 de janeiro de 1986. O veículo chamava-se Challenger e a bordo estavam 7 astronautas incluindo a “professorinha” como fora chamada posteriormente. Seus nomes eram: Richard “Dick” Scoobe, Michael Smith, Gregory Jarvis, Ellison Onizuka, Judith Resnik, Ronald McNair e a professora primária Sharon Christa MacAuliffe.
Era o décimo voo da Challenger e a 25ª missão dos ônibus espaciais. Essa missão tinha como objetivo realizar experiências científicas e lançar uma sonda que iria estudar o cometa de Halley que naquela época era a atração dos céus. O lançamento do Challenger fora adiado 5 vezes devido às péssimas condições climáticas, e naquela manhã a temperatura no cabo Kennedy estava por volta de 2 graus Celsius, 10 graus abaixo que qualquer outro lançamento feito pela NASA. Mesmo assim, o laçamento havia sido confirmado e às 13h37min (horário de Brasília), os motores foram ligados e a Challenger decolou para que 73 segundos depois viesse a explodir matando os 7 astronautas.
O que a comissão de investigação formada pelo então presidente Ronald Reagan descobriu foi que, devido ao intenso frio, um dos anéis de vedação de um dos foguetes de combustível sólido (SRB) não aguentou e rachou, permitindo que gases extremamente quentes pudessem vazar e com o passar dos segundos derreter as paredes do tanque de combustível externo (ET) até a falência da estrutura, vindo então a explodir. O Challenger não aguentou a mudança violenta de direção e este veio a se partir em milhares de pedaços, devido mais à pressão do ar do que à explosão do tanque externo propriamente dita.
Mas nesse caso, o compartimento da tripulação aguentou. Fora encontrado dias depois no oceano atlântico a uma profundidade de 60 metros. Todos estavam mortos.
Dezessete anos depois, os astronautas que estavam no voo 113, o 28º do Columbia, fizeram uma homenagem em órbita em memória dos sete astronautas do Challenge. Mal sabiam que eles seriam os próximos homenageados quatro dias depois.
Depois de 16 dias no espaço, realizando mais de 80 experiências científicas em diversas áreas, trabalhando 24 horas por dia em dois turnos, chegou a hora de “guardar tudo” e começar a se preparar para a descida. Diferente dos primeiros veículos da era espacial, os ônibus espaciais mantinham o contato por rádio mesmo durante a reentrada, um dos períodos mais críticos do voo, se é que existe alguma parte no voo espacial que pode ser definido como o mais crítico. Vale lembrar que o astronauta veterano John Young uma vez relatou sobre isso, ao dizer que a fase mais difícil de um voo espacial é aquela entre o lançamento e o pouso. Mas, 16 minutos antes do pouso aconteceu o que o mundo todo hoje já sabe: o Columbia não existe mais e com ele foram mais outros 7 astronautas. Seu nomes: Rick Husband William McCool, Michael Anderson, Kalpana Chawla, David Brown, David Brown, Laurel Clark, e Ilan Ramos, o primeiro astronauta israelense.
Vale frisar que a tragédia do Columbia ocorreu acerca de 63 km de altura, ou seja, sob o espaço aéreo territorial dos Estados Unidos. E assim como foi dito no começo, ninguém, até hoje, morreu no espaço.
O Brasil, não fica fora infelizmente da lista dos desastres espaciais. Meses depois do acidente com o Columbia, a Plataforma de Lançamento do VLS, o Veículo Lançador de Satélites, incendiou-se ainda em sua plataforma, matando 21 técnicos que executavam testes de pré-lançamento. Até o momento, não é o desejo desse artigo, expor e esclarecer as causas dessa tragédia, já que estas estão ara ser investigadas. Quando todas as cusas forem mostradas, essa será a ocasião para tratar os verdadeiros agentes causadores dessa perda irreparável para todos nós.

Ronaldo Garcia, é designer digital e professo de Astronomia no Centro de Estudos do Universo. O presente artigo é fruto da parceria entre o Boletim Centaurus e a Revista macroCOSMO. O boletim Centaurus é mensal e está disponível através do endereço: http://br.groups.yahoo.com/group/boletim_centaurus





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